Mercado

IRB (IRBR3): CVM arquiva caso sobre manipulação de preços de papéis 

Para autarquia, apesar intenção de realizar o movimento, não foi identificada uma “organização clara e coesa”

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) optou por arquivar uma investigação que analisava se um grupo de investidores do IRB (IRBR3) se uniu para provocar um “short squeeze” em 2021, uma estratégia que envolve uma corrida para comprar ações e desfazer operações de aposta na baixa. Segundo o regulador, mesmo que houvesse a intenção de realizar tal movimento, não foi possível identificar uma “organização clara e coesa” que justificasse uma manipulação de preços com base na alta das ações em 28 de janeiro daquele ano.

A Superintendência de Processos Sancionadores (SPS), encarregada de conduzir a investigação, determinou que o aumento de 17,82% nas ações do IRB naquele dia foi ocasionado pelo crescimento na demanda de investidores influenciados de maneira difusa pela repercussão das notícias e por diversas plataformas de redes sociais.

“Apesar de todos os esforços empreendidos, não foi possível reunir um conjunto forte e convergente de indícios que pudessem estabelecer a necessária relação causal entre a tentativa de organização de um movimento de ‘short squeeze’”, diz o documento, divulgado pelo Valor.

O “short squeeze” é um movimento anormal de mercado que resulta em uma rápida elevação nos preços de um ativo. Nesse cenário, os investidores que mantêm posições “vendidas”, isto é, que estão apostando na queda do ativo, são compelidos a fechar suas posições para evitar prejuízos ainda maiores.

Mesmo caso nos EUA

Semelhante ao caso do IRB, nos EUA, as ações da GameStop também foram afetadas por um episódio similar. Poucos dias antes do incidente envolvendo o IRB, um grupo de investidores na rede social Reddit optou por investir na GameStop, ameaçando aqueles que estavam posicionados para venda dessas ações. Este grupo contava com mais de 2,5 milhões de participantes.

Após a repercussão do caso GameStop, investidores brasileiros do IRB passaram a expressar suas opiniões nas redes sociais, formando um grupo no Telegram com o intuito de provocar um “short squeeze” nas ações. O IRB, que foi vítima de fraude contábil, teve que republicar seus balanços com um ajuste de R$ 1,3 bilhão. A empresa enfrentou desafios significativos após a gestora Squadra, que estava posicionada vendida nas ações, questionar a veracidade de seus resultados.

Ações do IRB

Em 28 de janeiro, as ações do IRB registraram um aumento de 17,82%. Nesse dia, mais de 21 mil investidores participaram das negociações, um número que ultrapassou em mais de 200% o observado nos 10 pregões anteriores. Além disso, o volume negociado apresentou um incremento de 335%.

Após uma análise inicial, a CVM iniciou uma investigação para avaliar se os investidores envolvidos agiram com intenção dolosa. Durante a análise, foram examinadas as redes sociais mencionadas em denúncias à CVM, incluindo o grupo do Telegram e um fórum de investidores. “Apesar da inegável intenção em provocar o ‘short squeeze’, a organização do movimento não pôde se materializar”, afirma o relatório do inquérito.

Uma das conclusões da CVM foi que a alta nas ações do IRB em 28 de janeiro não foi originada pelos responsáveis pelo grupo do Telegram. Criado na véspera, naquela ocasião, o propósito era ganhar notoriedade. O volume de negociações atípico não se repetiu, reforçando, para a CVM, a ideia de que o incidente foi mais resultado de uma euforia de investidores influenciados pelas notícias sobre a organização do “short squeeze” do que de uma ação efetivamente orquestrada. O IRB, quando procurado, não comentou sobre o assunto.