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Itaú BBA mantém otimismo com setor de educação no Brasil

'Esse setor tem uma exposição elevada a mudanças regulatórias", ponderam os analistas do banco

O setor educacional brasileiro deve passar 2024 sem grandes mudanças nas tendências observadas no ano anterior, quando o desempenho foi positivo, segundo analistas do Itaú BBA.

“A menos que ocorram alterações regulatórias, é provável que o ensino a distância continue experimentando um sólido crescimento na captação com desempenho mais lento no ticket médio, enquanto a educação presencial pode ver uma queda nos volumes, mas ainda assim manterá o ritmo com a inflação”, afirmaram analistas liderados por Vinicius Figueiredo.

Segundo relatório divulgado pelo banco na véspera, Yduqs (YDUQ3) deve continuar apresentando resultados operacionais positivos a curto prazo, enquanto Anima (ANIM3) ainda possui grande potencial de valorização, na visão dos analistas, principalmente na vertical médica Inspirali, apesar da alta alavancagem financeira e riscos inerentes a uma companhia que está focando em eficiência e ganhos de rentabilidade.

Apesar dos resultados positivos observados nos primeiros nove meses do ano passado, “continuamos adotando uma abordagem conservadora em relação ao setor de ensino superior no Brasil”, disseram os analistas do Itaú BBA.

“Esse setor tem uma exposição elevada a mudanças regulatórias, como o programa Fies e alterações no marco regulatório do ensino a distância. Além disso, o ‘valuation’ já não está mais tão atrativo como no passado”, o que exige uma análise mais detalhada para a escolha de ações, acrescentaram.

Embargo a cursos EAD prejudica setor de educação, dizem analistas

O Ensino à Distância (EAD) foi a salvação para empresas do setor de educação durante a pandemia da Covid-19. Com o necessário isolamento social imposto para combater a propagação da doença, as instituições de ensino não tiveram outra alternativa senão investir em tecnologia para tornar possível a continuidade dos estudos sem a necessidade de aulas presenciais.

Porém, o que parecia uma forma improvisada de manter o negócio funcionando, se tornou a solução definitiva para muitas empresas do setor que se viram endividadas com o passar dos anos.

Contudo, uma portaria do MEC (Ministério da Educação) publicada no final de novembro, assustou os empresários do ramo. O MEC suspendeu, por 90 dias, o processo de autorização de cursos e de credenciamento de instituições de educação superior na modalidade à distância.

Os cursos afetados foram: biomedicina, ciências da religião, direito, educação física, enfermagem, farmácia, fisioterapia, fonoaudiologia, geologia/engenharia geológica, medicina, nutrição, oceanografia, odontologia, psicologia, saúde coletiva, terapia ocupacional e licenciaturas em qualquer área.

A portaria também suspendeu os pedidos de credenciamento, na modalidade à distância, das instituições de educação superior que obtiverem Conceito Institucional para EaD (CI-EaD) inferior a quatro.

“Para instituições financeiras que trabalham já há muitos anos de forma bem apertada, o EAD acaba sendo algo que aumenta a lucratividade, que faz com que consigam se manter no mercado. Então você tirar isso das empresas, especialmente no momento atual de crise econômica em praticamente todos os setores, é extremamente prejudicial”, alertou o professor universitário e mestre em negócios internacionais, André Charone.

“Com o EAD, as empresas conseguem redução do custo de hora/aula de professor. Obviamente, com uma aula virtual, você consegue atender muito mais alunos que numa sala de aula presencial, que atende no máximo 80 alunos com uma sala muito grande. No EAD você pode atender tranquilamente 200, 300 pessoas por videoaula com participação síncrona e ao vivo, ou seja, o custo acaba sendo muito menor como professor, sem contar com toda a estrutura física. Não precisa ter sala de aula, energia elétrica, precisa apenas de um ambiente virtual que inicialmente acaba sendo um investimento alto, mas esse investimento acaba se pagando em muito pouco tempo”, explicou o professor.

O professor e gestor do setor de educação, Saulo Maciel, demonstra preocupação com a medida do governo. Para ele, o Ensino à Distância é uma ferramenta de inclusão social importante e que facilita o acesso ao ensino superior.

“A alternativa para o encolhimento do FIES foi a oferta por meio da Educação à Distância. Pessoas que não teriam condições de pagar, porque perderam esse acesso por meio de financiamento estudantil, começaram a ter acesso através dos cursos à distância. Então, todo o movimento regulatório é preocupante no curto prazo, até porque não sabemos qual é a intenção por trás de se fazer esse movimento. A determinação do MEC acaba demonstrando um cenário preocupante em relação a uma diferenciação dos instrumentos de avaliação de qualidade, uma falta de clareza das intenções nessa proposta, uma falta de diálogo, especialmente com o setor privado”, criticou o especialista.