Ao anunciar seu balanço do quarto trimestre de 2022, o Magazine Luiza (MGLU3) revelou ter recebido uma denúncia anônima de supostas práticas comerciais que violaram o Código de Conduta e Ética da companhia. As irregularidades envolveriam operações de bonificação relativas a compras de fornecedores e distribuidores.
A notícia pegou muitos agentes financeiros de surpresa e tem gerado receio no mercado, que tem visto com desconfiança os papéis da varejista. Neste contexto de investigação, a pergunta que tem causado intriga é: os investidores do Magalu devem vender suas ações?
“O momento é de cautela, ou seja, quem pensa em vender ou quem pensa em comprar deve esperar. Ninguém sabe ao certo o tamanho do prejuízo que a denúncia pode trazer e se, de fato, há provas concretas para comprovar as irregularidades. O investidor deve ser neutro nesse momento”, afirmou Nayara Mota, economista comportamental, fundadora da Consultoria Financeira NM e sócia conselheira do Instituto Êxito de Empreendedorismo, ao BP Money.
Na visão de Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos, aqueles que investem no Magazine Luiza não deveriam se desesperar e vender suas ações por conta de uma denúncia sobre supostas irregularidades em operações de bonificações. Ainda de acordo com o analista, mesmo que seja provado uma fraude, a varejista não iria quebrar, como aconteceu na Americanas (AMER3).
“Não acho que o investidor deve vender suas ações do Magazine Luiza, pois não acho que será um grande impacto, fora que nada foi provado ainda. E mesmo se a denúncia for provada, ela não irá quebrar, pois ainda seria um caso muito diferente da Americanas, por exemplo”, disse o fundador da Gava Investimentos.
Ricardo Julio Rodil, líder de Capital Markets da Crowe Macro Auditores e Consultores, partilha da mesma opinião de Brasil, explicando que a denúncia sobre supostas irregularidades das bonificações, ao que tudo indica, não é tão grave quanto o mercado pensa.
“Até o momento, as notícias relataram bonificações a distribuidores outorgadas fora dos padrões estabelecidos pela Magalu. Caso a denúncia seja restrita a isso, eu não recomendaria vender os papéis da empresa, pois, neste caso em particular, o impacto no patrimônio e nos lucros do Magalu não parece ser negativo”, explicou.
“Se bonificações foram pagas impropriamente a distribuidores, o Magalu, em todo caso, teria montantes a receber pela devolução desses excessos. Diferente seria o caso de irregularidades fiscais, do tipo evasão, que poderiam levar a varejista a ter que pagar pelos tributos impropriamente declarados, com acréscimos de multas e encargos financeiros”, acrescentou Rodil.
Os próximos balanços trimestrais do Magalu serão afetados?
De acordo com Fabrício Gonçalvez, CEO da Box Asset Management, caso a denúncia seja comprovada, os próximos balanços trimestrais do Magazine Luiza poderão ser impactados negativamente, pois significaria que alguns fornecedores receberam pagamentos indevidos, algo que afeta o caixa da empresa.
“Se a denúncia sobre possíveis irregularidades fiscais for investigada, há uma chance de que os balanços trimestrais da Magazine Luiza em 2023 sejam afetados negativamente. A denúncia indica que três distribuidores, responsáveis por 3,5% do valor total de compras de mercadorias em 2022, podem ter recebido bônus e outros pagamentos indevidos, o que pode afetar a situação financeira da empresa”, explicou Gonçalvez.
Assim como o CEO da Box Asset, Brasil também acredita que, caso a suposta irregularidade seja comprovada, os balanços trimestrais de 2023 do Magalu poderão ser afetados de forma negativa. No entanto, o analista reitera que a varejista tem demonstrado uma postura bastante cuidadosa com o caso, o que é positivo.
“Caso a denúncia seja confirmada, talvez possamos ter algum impacto sim nos próximos balanços trimestrais do Magalu. Por enquanto, ela está sendo muito diligente, então a principio não não estou vendo nenhum indício de que ela possa achar alguma inconsistência”, disse o fundador da Gava Investimentos.
Em contrapartida, Rodil crê que, caso sejam provadas irregularidades nas bonificações, a Magazine Luiza poderia se beneficiar e registrar uma alta nas receitas dos próximos balanços trimestrais.
“Se for confirmado que o problema se resumiu a bonificações pagas em excesso, é possível que as pessoas que realizaram essa irregularidade tenham, de alguma maneira, que reembolsar os montantes desviados. Neste caso, o Magalu iria contabilizar receitas ou diminuições de custos, o que afetaria positivamente seus lucros”, relatou.