Análise

Paulo Gala: Brasil deve ser afetado por tarifas recíprocas dos EUA

A implementação da medida colocaria taxas às importações americanas iguais às que os parceiros comerciais impõem às exportações dos EUA

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master/ Foto: Gabriel Rios/ BP Money
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master/ Foto: Gabriel Rios/ BP Money

O Brasil deve ser um dos países mais afetados pela imposição de tarifas recíprocas pelos EUA, anunciada na sexta-feira (7) pelo presidente do país norte-americano, Donald Trump. A implementação da medida colocaria taxas às importações americanas iguais às que os parceiros comerciais impõem às exportações dos EUA.

“E o Brasil, de fato, se destaca como um dos países que mais tarifam os Estados Unidos”, diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.

Segundo dados da OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil impõe, em média, tarifas de 14% aos produtos dos EUA, o que coloca o país na lista dos que mais tarifam, junto com a Argentina, Paquistão e Bangladesh.

De acordo com Gala, os produtos brasileiros que devem sofrer o maior impacto são o aço e o alumínio, considerando também a tarifa de 25% para esses produtos anunciada por Trump.

Ao mesmo tempo, balança comercial equilibrada é ponto positivo, diz Paulo Gala

Por outro lado, Gala lembra que o Brasil tem vantagens por ter uma balança comercial equilibrada com os EUA. “A gente tem falado muito disso, o Brasil exporta US$ 40 bi para os Estados Unidos e importa US$ 40 bi. Então, naquela lista de grandes déficits comerciais, o Brasil nem aparece”, comenta o economista.

Ainda com projeção de impactos moderados da política tarifária dos EUA para o Brasil e aguardando os próximos passos de Trump, Gala descreve que o mercado abriu “tranquilo” nesta segunda-feira (10).

Isto ocorre após um estresse na sexta-feira (7), com as falas do ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, sobre um possível aumento do Bolsa Família, que posteriormente foram desmentidas pelo governo.

Nos EUA, agentes do mercado ainda reagem aos dados do payroll, que mostraram a criação de 143 mil vagas de emprego no país norte-americano. Segundo Gala, o número é moderado, mas é preciso ter atenção para a revisão dos dados de dezembro, que apontou para 300 mil vagas criadas.

“Isso acabou botando alguma pressão ainda na curva de juros por lá“, comenta o economista.

Já os dados nacionais indicaram fraqueza econômica, com queda na produção industrial. Nesta semana, investidores aguardam a divulgação do IPCA nesta terça-feira (11), que, segundo Gala, deve ser “atipicamente mais baixo”.

“É um IPCA que engana um pouco porque o preço de energia caiu muito em janeiro, ainda pela questão de chuvas e bandeira verde”, justifica o economista.