Tesouro atraente

Renda fixa x Renda variável: como tirar ganhos das incertezas?

Especialistas consultados pelo BP Money avaliaram se a renda fixa traz, de fato, boas opções de investimento, frente a renda variável

Foto: Pexels
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No ring da disputa travada pelos Bancos Centrais para decidir entre juros altos versus juros baixos, os ativos de renda fixa são os que saem ganhando. Nesse quadro, os títulos do Tesouro Direto têm operado em alta nos últimos dias e especialistas avaliam se eles são, de fato, boas opções de investimento, neste momento.

Na lista de destaques da renda fixa, o papel do Tesouro IPCA+, com vencimento para 2029, oferecia, na sessão desta quarta-feira (24), um retorno de 6,16%. Pode-se associar tal conjuntura com a aversão ao risco que tomou o mercado nos últimos dias.

A planejadora financeira e sócia da AVG Capital, Ana Paula Carvalho, explicou, em resposta ao BP Money, que a renda variável sofre sempre que há um cenário de juros altos. 

Com isso, a renda fixa torna-se uma alternativa que oferece maiores ganhos, considerando a relação risco x retorno, como acontece agora.

“Apesar de considerar que há boas oportunidades em renda variável, o cenário continua bastante incerto e isso não tem encorajado o investidor a voltar investir em ações”, afirmou ela.

Para ela, entre as opções de ativos para o médio e longo prazo (superiores a 2 anos), os melhores ativos são os que remuneram IPCA + juros, com preferência para os títulos isentos que tem boa classificação de risco de crédito. 

“Tais papéis chegam a pagar taxas acima de 6%, o que passa a ser muito interessante, pois o investidor ficará protegido da variação da inflação, além de juros reais que estão pagando cerca de 6%”, indicou Carvalho.

Já no campo da renda variável, ainda há boas opções com ações menos voláteis. A indicação de Carvalho foi reiterada por Yan Pedro, fundador da empresa Hey Investidor e da OPI Escola de Investimentos, que apontou a força dos setores considerados perenes na economia.

“No momento de incerteza, na renda variável, vamos buscar por ações de setores perenes, aqueles que nunca param [energia, bancos, saneamento]. Independente do que aconteça, eles vão continuar mudando [e sendo] operacionais”, avaliou.

Rafael Bellas, head de Fundos Imobiliários da InvestSmart XP, concordou com o entendimento e sugeriu também outras estratégias. Uma delas foi a diversificação, investindo em mercados em diferentes estágios econômicos, para mitigar os riscos de qualquer economia específica.

“Além disso, focar em empresas com fundamentos sólidos com alta liquidez, baixo endividamento e histórico de desempenho estável pode proteger os investimentos contra flutuações do mercado”, ressaltou.

O que explica o panorama da renda fixa nesse período?

O mercado está cercado de disputas no cenário econômico que projetaram maior temor na Bolsa de Valores. Segundo Carvalho, uma delas foi a frustração com o início do ciclo de redução dos juros nos EUA. 

Esperava-se que o Fed (Federal Reserve), autoridade monetária do país, desse o pontapé ainda neste primeiro semestre, porém as indicações são de que um corte nas taxas só ocorra na outra metade do ano. 

Outra luta simultânea ocorre no Brasil e preocupa tanto os investidores locais quanto os estrangeiros. Carvalho pontuou que a deterioração da visão quanto ao equilíbrio fiscal elevaram as taxas de juros futuros. 

Em paralelo a isso, as tensões geopolíticas no Oriente Médio e no Leste Europeu também afligem o mercado. Visando todas essas perspectivas, Yan Pedro observou que os investidores buscam segurança, também, através da renda fixa dos EUA, justamente por conta dos juros altos.

“Se os EUA mantêm a taxa de juros alta para o padrão deles, normalmente os investidores tiram dinheiro da Bolsa do Brasil, de outros mercados também e vão aplicar dentro da renda fixa americana”, afirmou.

Riscos dos títulos públicos

Na bsuca por maiores ganhos, apesar da segurança oferecida pela renda fixa, Bellas alertou para a importância de reconhecer que nem todos os ativos são isentos de riscos.

“Títulos atrelados à inflação e títulos com taxas prefixadas, por exemplo, ainda apresentam níveis significativos de volatilidade e risco, especialmente em cenários de flutuações econômicas acentuadas ou mudanças nas taxas de juros”, disse.

Esses títulos são projetados para proteger o capital contra a erosão do poder de compra. No entanto, alterações na expectativa da inflação futura e taxas de juros reais podem fazer o valor flutuar, detalhou Bellas.

“Por outro lado, títulos com taxa prefixada prometem um retorno fixo, mas seu preço de mercado pode ser bastante volátil em resposta a alterações nas taxas de juros: se as taxas de juros aumentarem após a compra desses títulos, seu valor de mercado cairá, e vice-versa”, acrescentou.

Expectativas no médio e longo prazo

Yan Pedro disse não esperar grandes surpresas com a inflação, com poucas influências do próximo resultado sobre a renda fixa e a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), que deve seguir cortando os juros até a meta de 9% ao ano.

“Acredito muito que isso vai acontecer, os juros vão continuar caindo e, proporcionalmente, a renda fixa para pagar cada vez menos, porque a Selic basicamente indica o ritmo da renda fixa”, finalizou.

O último Boletim Focus do BC (Banco Central) indicou uma leve alta no IPCA (índice de Preço ao Consumidor Amplo) para 3,56% ao ano, em maio. Bellas indicou que a recuperação econômica deve ser moderada, visto que o PIB está projetado para crescer a uma taxa de 2,02%. 

Sendo assim, na contramão de Pedro, ele vê um apoio ao ambiente de taxas de juros estáveis, caso o crescimento se confirme sem pressionar demais a inflação. 

“Em relação às taxas de renda fixa, as expectativas de inflação ligeiramente crescentes e uma taxa de juros estável sugerem um ambiente onde os títulos indexados à inflação podem continuar a ser atraentes, oferecendo proteção contra a perda do poder de compra”, concluiu.