Super Quarta: Brasil sem redução de juros em 2023 e EUA com reajuste

A divulgação dos números, que acontece nesta quarta-feira (3), deve trazer pouca ou nenhuma alteração em relação ao cenário atual.

O mercado não espera anúncios muitos significativos na chamada Super Quarta, quando são apresentadas as taxas básicas de juros no Brasil e nos EUA. A divulgação dos números, que acontece nesta quarta-feira (3), deve trazer pouca ou nenhuma alteração em relação ao cenário atual.

Aqui, o cálculo é determinado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e no país norte-americano por meio do Fomc (Comitê de Mercado Aberto) do FED (Federal Reserve). 

Na opinião de analistas ouvidos pelo BP Money, o BC já deu sinais de que deve manter os tão questionados 13,5% da Selic, mesmo com o resultado positivo em relação à inflação oficial (IPCA), que veio abaixo do esperado, com alta de 0,71% em março e acumulado de 4,65% em um ano.   

“Isso obviamente ajuda na condução de política monetária, mas ainda para essa reunião, a expectativa é de manutenção dos juros. Inclusive, por conta das declarações que o Roberto Campos Neto deu no Senado e vem se manifestando há algum tempo. Dizendo que ainda é cedo. A gente precisa de mais consistência nos dados para que a gente comece um ciclo de afrouxamento monetário, então a expectativa para a próxima reunião ainda é de manutenção”, disse o especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, Ricardo Jorge. 

Ainda segundo Jorge, os números bons dos últimos dados de inflação trouxeram ânimo para o mercado, mas nesse momento eles ainda são insuficientes para que o BC reduza a taxa.

“O IPCA é o principal indicador de atividade utilizado pelo Banco Central, não é o único. Obviamente existem um conjunto de fatores que dão base para as decisões do comitê, mas é bem verdade que o IPCA segue sendo o principal indicador. Obviamente que um IPCA mais fraco corrobora para um perfil menos contracionista da condução da política monetária”, reforçou.

“O cenário que o Banco Central trabalha hoje, com a fotografia que a gente tem hoje, é de manutenção até o final do ano’, projetou. 

O especialista em investimentos e sócio da GT Capital, Robson Casagrande, corrobora com a avaliação de Jorge. Para ele, o arcabouço fiscal apresentado pelo governo federal não deu segurança suficiente aos investidores, o que é um fator a mais para manter a atual taxa de juros. 

“O mercado é quase unânime no entendimento de que na próxima reunião do Copom a taxa básica de juros deve se manter nos patamares atuais. O mercado aguardava a apresentação do novo arcabouço fiscal para projetar os juros futuros, porém a política fiscal apresentada não é clara e, apesar de delimitar o crescimento real dos gastos primários, demonstra uma redução lenta da despesa/PIB, com um aumento considerável da carga tributária e agora este projeto precisa vencer a resistência do Legislativo. Diante destes fatos, o mercado projeta uma Selic de 13,75% para todo o ano de 2023”, ressaltou. 

Casagrande também explica que tem quem ganhe e quem perca com os juros altos.

“Os ativos que se beneficiam com a alta da taxa Selic são os de renda fixa pós fixados, pois muitos deles estão indexados ao CDI que acompanha este movimento de alta, por exemplo, um CDB de 120% do CDI hoje está rendendo por volta de 16,38%a.a, se taxa Selic for para 14%a.a este mesmo título irá rende próximo a 16,7% a.a”. 

De acordo com o especialista, os ativos que mais são afetados negativamente com alta da Selic são os de renda variável.

“Um exemplo são os Fundos Imobiliários que perdem atratividade no mercado devido a facilidade do investidor em buscar rentabilidade em ativos de menor risco e com menos volatilidade. Com a Selic a 13,75%, facilmente o investidor consegue uma rentabilidade de 1% a.a. Este percentual é muito próximo do que muitos fundos imobiliários pagam de dividendos, por este motivo muitos estão sendo negociados abaixo do seu valor patrimonial”. 

Decisão do FED

O Banco Central dos EUA, o FED (Federal Reserve) deve anunciar um leve reajuste na taxa de juros nesta quarta. Na previsão do diretor de investimentos da Nomad, Celso Pereira, a inflação elevada nos EUA (de 5% nos últimos 12 meses), e o cenário de emprego aquecido no país, continuam a atrair a preocupação do FED. A maior economia do mundo registrou taxa de desemprego de 3,5% e criação de 236 mil empregos em março.

“A autoridade monetária nos EUA deve elevar a meta de juros básicos em 0,25% na próxima quarta-feira. Dessa forma, o alvo para os juros básicos nos EUA passaria a ser 5%-5,25% ao ano, reforçando o comprometimento da autoridade monetária com o controle da inflação”, analisou. 

Pereira alerta para outros números que não podem passar despercebidos para que se possa fazer uma análise mais ampla do mercado americano.

“Outros dados importantes nos EUA são os resultados das empresas e dados do mercado imobiliário. Os resultados das 500 maiores empresas americanas negociadas em bolsa no primeiro trimestre vieram melhores que o esperado. As vendas de casas usadas em março foram de 4,4 milhões, número que se mantém bem abaixo do pico de janeiro do ano passado, quando estava 6,5 milhões”, pontuou.