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Alívio? Fed pode frear alta da taxa de juros em 2023

Desde 2022, o Fed busca arrefecer a inflação dos EUA

Com os EUA enfrentando um cenário de alta dos preços, é esperado que o Fed (Federal Reserve, o Banco Central norte-americano) eleve a taxa de juros mais uma vez no final de janeiro. A instituição monetária busca arrefecer a inflação, que continua reduzindo o poder de compra dos consumidores, segundo o Livro Bege, divulgado em 18 de janeiro de 2023.

Em entrevista ao BP Money, Licio da Costa Raimundo, economista e professor de Economia na Facamp, acredita que o Banco Central norte-americano não adotará medidas tão agressivas em janeiro e irá desacelerar o ritmo da alta dos juros ao longo de 2023.

“Eu diria que é seguro dizer que os EUA irão desacelerar a alta dos juros básicos em 2023. Das duas, uma: ou as taxas se estabilizam por algum tempo e começam a cair no quarto trimestre de 2023, ou elas vivem um momento mais curto de estabilidade e começam a cair já a partir do segundo semestre de 2023. Tudo isso vai depender, claro, da reação, da resposta do CPI, índice de inflação que o Fed leva em conta quando toma as decisões sobre juros”, afirmou.

O economista Diego Hernandez partilha do mesmo pensamento que Raimundo, ressaltando que o índice de inflação dos EUA tem demonstrado sinais de arrefecimento desde outubro de 2022, algo que acalmaria as ações do Federal Reserve. Recentemente, foi anunciado que o CPI nos EUA caiu 0,1% em dezembro na comparação com novembro.

“Eu creio que o Fed irá desacelerar o aumento da taxa de juros em 2023. Recentemente, o índice CPI tem dado uma trégua, com a inflação diminuindo pelo terceiro mês consecutivo e vindo abaixo das expectativas do consenso comum de mercado. Atualmente, nós temos uma taxa de juros de 4,50%, com o mercado esperando um aumento de 0,5%. No entanto, eu creio que na próxima reunião, que ocorrerá no final de janeiro, o aumento promovido pelo Fed será algo mais brando, em torno de 0,25%”, contou.

Há a possibilidade de uma recessão norte-americana?

Após o Fed ter acelerado o ritmo da alta dos juros em 2022, grande parte dos investidores norte-americanos passaram a acreditar que a vinda de uma recessão seja inevitável. Segundo levantamento da Associação Nacional de Economia Empresarial (Nabe, na sigla em inglês), feito com 51 especialistas, há mais de 50% de chance de acontecer uma recessão nos EUA em 2023.

Para Raimundo, se o Fed continuar promovendo altas agressivas dos juros em 2023, uma recessão será inevitável. O analista ainda diz que se os EUA passarem, de fato, por uma recessão, toda a economia global será negativamente impactada. O professor explica que os EUA, além de grandes exportadores, são grandes consumidores de commodities. Logo, ao passo que há uma recessão, inúmeros países seriam fortemente impactados com essa queda da demanda norte-americana.

“Se o Fed aumentasse cada vez suas taxas de juros, isso não só se traduziria em uma recessão nos EUA, mas sim transbordaria para boa parte do mundo, na medida em que os EUA são a maior economia do mundo. Então quando os norte-americanos entram em recessão, eles puxam necessariamente o mundo pra baixo. Por que? Porque eles são grandes compradores, e as importações norte-americanas compõe boa parte da renda de outros países do mundo. Então, ao passo que os norte-americanos compram menos, é evidente que o mundo sofre e corre o risco de entrar em recessão”, explicou o profissional da Facamp.

O professor ainda ressalta que, mesmo que seja provocado uma recessão, o Federal Reserve não irá promover cortes na taxa de juros, pois sua intenção é desaquecer a economia norte-americana.

“O Fed não luta contra uma recessão, isso é importante que fique claro. A lógica da elevação da taxa de juros para combater a inflação é provocar uma recessão. O Fed está lutando para que a economia norte-americana produza menos e crie menos empregos.

É essa a lógica que está por trás do modelo que conduz o Federal Reserve nas suas decisões. Ele não está olhando para o nível da atividade e também não está olhando para o nível de produção e de crescimento. O Fed está olhando para a inflação”, afirmou Raimundo.

Fabio Fares, especialista em macro da Quantzed, acredita que, se o Fed não desacelerar a elevação da taxa de juros em 2023, uma recessão norte-americana será inevitável. No entanto, o analista cita a reabertura chinesa como um evento que pode atenuar uma possível crise econômica mundial.

“Se os EUA continuarem subindo juros a torto e a direito e não pararem nos 5,25% como o mercado espera, nós vamos entrar em recessão. No entanto, do outro lado, nós temos uma China que está se reabrindo e falando em crescimento. O mercado está começando a apostar que ela cresça de verdade. Tanto que alguns bancos já revisaram o crescimento da Europa, que estava muito pior que os EUA, e preveem um crescimento de 0,5% puxado pela China”, disse Fares.

Como a taxa de juros norte-americana impacta o Brasil 

Hernandez afirmou que, quando o Fed decide aumentar a taxa de juros dos EUA, muitos investidores optam por retirar seus investimentos de países emergentes, como o Brasil, e acabam investindo em um capital especulativo nos EUA. O analista relata que os agentes financeiros acabam julgando como mais atrativo e seguro esse tipo de ativo.

“Ao aumentar os juros, o Fed faz com que a economia brasileira sofra com uma fuga de capital. O mercado financeiro sempre está fazendo essa relação risco retorno: você vai investir em um capital especulativo nos EUA ou você vai viver investindo em um país emergente dado o prêmio que ele tem. Atualmente, os EUA têm uma taxa de juros livre de risco de 4,5%, enquanto no Brasil, essa taxa é de 13,75%. Então, uma vez que você tem um aumento de juros nos EUA e não tem aqui no Brasil, há uma fuga de capital, tendo consequentemente um aumento do preço do dólar”, explicou o economista.

Milene Dellatore, especialista em investimentos e CEO do Grupo Mide de Investimentos, explica que, ao aumentar a taxa de juros, o Banco Central norte-americano acaba forçando uma desaceleração da economia global. Segundo a analista, tal cenário pode ser maléfico para o Brasil, pois uma queda da demanda mundial iria prejudicar veementemente as exportações de suas commodities.

“O Brasil é um mercado emergente, e mercados emergentes dependem muito da exportação de commodities. Dessa maneira, o Brasil sofrerá com uma desaceleração da economia mundial, se ela realmente vier a acontecer, pois a falta de demanda por esses produtos afetará diretamente o mercado brasileiro”, disse a analista.