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Payroll: mercado erra ao comemorar Fed mais lento, diz analista

O consenso Refinitiv aponta para a criação de 200 mil empregos em novembro nos EUA

Um dos indicadores mais aguardados pelos investidores na semana, o Payroll será divulgado nesta sexta-feira (2) pelo Departamento do Trabalho dos EUA. Ele vem sendo monitorado pelo Federal Reserve (banco central norte-americano) como um dos termômetros para a inflação do país. 

Especialista em análise macro da Quantzed,  Fabio Fares projeta um resultado do payroll acima do número esperado por conta da desaceleração do setor de lazer e entretenimento, e alerta ao mercado sobre a projeção de um Fed mais lento após os indicadores. 

“Veremos um Payroll um pouco acima dos 200 mil esperados, porque o setor que mais está contratando, que é o de lazer e entretenimento, já deu uma desacelerada. Como as contratações do governo são pequenas nessa época do ano, não haverá surpresa tão negativa. Isso não fará com que o mercado fique preocupado, pois já está dado”, opinou Fares ao BP Money. 

“Independente do Payroll vindo mais forte, o mercado continuará animado porque para o Fed pouco importa o mercado de trabalho nesse momento, ele já está vendo um desaquecimento. Só um número muito forte faria o mercado mudar o ânimo que está agora, o que eu acho difícil. O mercado já está comemorando um Fed mais lento e torcendo para ele parar de subir o quanto antes, e eu só acho que o mercado está errado”, completou o especialista da casa de análise e empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.

Já para Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, a projeção é de que haja uma aceleração um pouco mais forte do que o esperado. 

“A projeção é de que venha abaixo do esperado, até na sensibilidade do mercado em que se começa a notar um preenchimento daquelas vagas de emprego que estavam em vacância desde a pandemia, então isso demonstra até a demanda por novos trabalhadores começar a ter uma curva de redução. Esse é um dado muito importante para o Fed, que consegue ter uma noção do aquecimento da economia”, afirmou Velloni.

A projeção do compilado de dados oficiais do mercado de trabalho americano aponta para a criação de 200 mil empregos em novembro, uma desaceleração em relação à outubro, segundo o consenso Refinitiv. 

Fares acredita que o Fed continuará subindo os juros, só que mais devagar. “O mercado continuará insistindo que o ano que vem será muito bom, quando a maioria dos analistas acha que será um ano de crescimento zero. Começa a chegar em níveis que estamos vendo isso na curva de juros americana que está fechando pois as pessoas estão buscando proteção, que a bolsa está ficando cara”, analisou. 

Powell sinaliza que ritmo de aumento das taxas de juros podem diminuir

O presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, disse nesta quarta-feira (30) que o momento de moderar o ritmo de aumento das taxas de juros pode chegar na próxima reunião do comitê de política monetária, em dezembro. Mas, dado o progresso na política de aperto, o momento dessa moderação é muito menos significativo do que as questões de quanto mais será necessário elevar as taxas para controlar a inflação e também o período de tempo necessário para manter a política em um nível restritivo.

“O presidente Powell já demonstrou em sua fala ontem [quarta-feira] um cenário mais animador, mostrando que a economia está em um ponto de inflexão, mas ele terá de tomar cuidado por estar em um regime mais cuidadoso. Ele já deu sinal que, apesar de algumas melhoras, precisará estar atento a uma manutenção de elevação de taxa de juros. O estado é delicado”, salientou o economista Ricardo Macedo. 

“É importante para ele ter o controle dessas variáveis e dar sinais para qual será a tendência dessa possível inflexão. Olhando para a frente, a tendência é de manutenção de taxa de inflação com quedas moderadas mais para a frente”, projetou Macedo. 

Para Velloni, os juros deixaram de ter importância maior no tipo de inflação que se tem atualmente na maioria das economias, que é puxada pela escassez da oferta de produto. 

“Começa a surgir efeito no reabastecimento dessas economias, o que pressiona a inflação. São vários fatores que acabam sinalizando de que haverá uma redução de pressão na inflação. Acho que começaremos a traçar no final de dezembro uma tendência de queda, de quando ocorrerá a redução de juros no próximo ciclo”, destacou o economista-chefe da Frente Corretora.

A próxima reunião do Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), a última do ano, será realizada em 14 de dezembro. O monitor de juros, do CME Group, mostra que 75% dos agentes de mercado esperam por uma desaceleração no ritmo de aperto, prevendo uma alta de 50 pontos base (após quatro altas consecutivas de 75 pontos). O resultado do Payroll desta sexta pode ser importante na decisão da autoridade monetária.