O ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Omar Paganini, sugeriu que o Mercosul avance no diálogo com a China. A indicação vem após o impasse que envolve o acordo comercial do bloco sul-americano com a União Europeia.
Durante encontro da cúpula do grupo no Rio de Janeiro, o chanceler falou em facilitar o caminho para um acordo bilateral que também poderá “servir” ao conjunto dos sul-americanos.
“Dissemos, e o nosso presidente (Luis Lacalle Pou) reiterou, que queremos todo o Mercosul com a China, mas se o Uruguai puder avançar primeiro, acreditamos que também serve ao conjunto”, acrescentou.
Para obter esse progresso, o uruguaio sugeriu que o mecanismo de diálogo entre Mercosul e China seja reativado. “Passaram cinco anos desde a última reunião. Cinco anos em que o mundo se tornou mais complexo e mais desafiador. E todos sabem que a China é um ator com protagonismo nesse cenário”, concluiu o Paganini.
Montevidéu tem buscado negócio com a China, mas esbarra nas regras do Mercosul, que obriga os países-membros (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) a adotar uma Tarifa Externa Comum (TEC) sobre as importações.
O ministro também reafirmou o compromisso do país com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia, mas expressou preocupação. “Vemos com satisfação os avanços do decorrer deste ano, especialmente no segundo semestre”, afirmou Paganini. “Vemos esses desdobramentos com esperança, mas também com certa preocupação pelas dificuldades que apareceram na reta final”, ponderou ao lembrar que a “janela de oportunidade” está se fechando.
Com informações do Broadcast/Estadão.
Acordo entre Mercosul e União Europeia não deve sair em 2023, dizem especialistas
O tão aguardado acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia não deve sair do papel em 2023, como era o desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
As tratativas começaram há 23 anos, em 1999, e parecia que dessa vez finalmente seria concretizada até o dia 7 de dezembro, quando se encerra a presidência do Brasil no bloco sul-americano. Porém, indecisões vindas dos dois continentes esfriaram as negociações.
Analistas consultados pelo BP Money explicaram que as reações vindas da Argentina e da França dificultaram os entendimentos entre os blocos.
Por parte dos vizinhos, a questão é a incerteza gerada pelo posicionamento dúbio do presidente recém eleito, Javier Milei. Durante a campanha, o ultraliberal deu sinais de que não iria aderir ao grupo. Por sua vez, fontes no Itamaraty relatam que Diana Mondino, futura chanceler, manifestou em interações recentes com o Brasil o desejo de assinar o acordo.
Do lado europeu, chamou atenção a forma ríspida na qual o presidente francês, Emmanuel Macron, reagiu aos termos do acordo durante discurso na COP28.
“Esses entraves políticos deram uma desacelerada na negociação. Então, com base nessas duas questões, fica claro que nesse ano é muito difícil chegar em um acordo”, afirmou o diretor da How2Go no Brasil, Marcelo Vitali.
Questão francesa
O professor de Direito Internacional da Faculdade Arnaldo, Douglerson Santos, explica que o agronegócio é o principal motivo da negativa francesa ao acordo. Ele detalha que além da França, países como Polônia e Irlanda sempre mostram preocupação com seus produtores rurais.
“No último discurso do Macron na COP28 ele deixou de forma bem expressa que não teria a mínima condição de cobrar dos produtores franceses um determinado comportamento e algumas técnicas, e ao mesmo tempo abrir o comércio para produtos de outros países que não cumprem com essas mesmas regras. Então, acho que ele deixou isso de forma mais clara dessa vez, colocando um posicionamento mais assertivo”, pontuou o professor.
Outro ponto é a questão ambiental. Santos destaca que há uma pressão muito grande dos ambientalistas e a recente entrada do Brasil na OPEP+ gerou desconfiança nos grupos.
“Existe também um questionamento de um movimento, de certa forma meio ambíguo, meio dúbio do governo brasileiro que é a entrada na OPEP+. O movimento é visto pelos ambientalistas como um combustível a mais para questionar o posicionamento da Europa em firmar esse acordo. É um ponto que merece ser analisado”, avalia.
O professor acrescenta que a saída do Brasil da presidência do Mercosul é outro fator que pode esfriar de vez as negociações. O próximo país a assumir a liderança do bloco será o Paraguai, que na avaliação dele, não tem o mesmo peso diplomático que o Brasil. A cada seis meses um novo país assume a chefia do bloco.
“Acho relevante o fim da presidência brasileira no Mercosul. Sem dúvida nenhuma, os europeus se dispõem a conversar e a dialogar com o Brasil em função da representatividade que a economia brasileira tem dentro da região. Então, não fechando esse acordo nesse mês de dezembro, o Paraguai ficaria na presidência por seis meses e aí seriam seis meses realmente de estagnação. Não vejo como o acordo vai evoluir com a presidência do Paraguai no Mercosul”, projetou.