Demissões nas startups eram inevitáveis, avalia edtech B.NOUS

Na visão da B.NOUS, startups e bigtechs deixaram de lado crescimento sustentável para priorizar “números em planilhas”

Nos últimos meses, o mercado de tecnologia, seja de startups ou de big techs, como Meta (M1TA34), dona do Facebook, e Twitter (TWTR34), vem passando por uma série de demissões em massa. Por aqui, cerca de 100 funcionários foram demitidos da empresa de Mark Zuckerberg; no mundo, onze mil foram cortados. Em entrevista ao BP Money, Isabela Jabor, CEO da B.NOUS, disse que por mais que sejam inevitáveis, a forma como a empresa lida com os grandes cortes é o que a diferencia do “vilão” e do “mocinho”. 

“O mercado e a economia são cíclicos, então o momento do aperto chegou e as empresas estão tendo que escolher entre aumentar a receita e cortar gastos”, explicou a fundadora da edtech, que é focada no desenvolvimento e aprimoramento de habilidades ligadas à inovação e habilidades humana. 

Segundo ela, o momento que o País passa, de recessão econômica, faz com que os cortes observados nos últimos meses estejam longe de ser uma surpresa. Na verdade, colocando em perspectiva, Jabor apontou que o cenário é óbvio. 

Ainda assim, grandes cortes não precisariam estar acontecendo se esperesas tivessem um cuidado em crescer de forma sustentável, olhando para a saúde financeira e das pessoas. “As empresas precisam olhar a longo prazo”, disse. 

“Não estamos falando apenas de cortes em planilhas”

Mesmo assim, grandes cortes são, muitas vezes, a única opção de uma empresa. O problema, segundo a CEO, está em como conduzir as demissões em massa. 

O cenário, neste caso, não é muito favorável às companhias, sejam elas gigantes, como o Facebook, ou startups menores. Casos de desligamento via corte à acessos de plataformas, ou funcionários demitidos por um gestor “desconhecido” se tornaram cada vez mais comuns. A própria Meta cortou o acesso de seus funcionários no Brasil, segundo fontes ouvidas pelo BP Money. 

“A forma como isso acontece é muito ruim para os que saem e os que ficam, é muito cruel com as pessoas. Se pensarmos no curto prazo, o custo vai, de fato, cair, mas lá na frente, como fica a produção dessa equipe que permaneceu na empresa? Temos que lembrar que não estamos falando apenas de cortes em planilhas”, disse Isabela. 

Ainda, para ela, os grandes cortes devem continuar acontecendo. A diferença, agora, é que é necessário um olhar diferente para a situação, tirando um aprendizado dos casos que vêm tomando as notícias nos últimos meses. Jabor afirmou que esse é o momento de olhar o mercado de trabalho com outra perspectiva. 

Para além das demissões em massa: o mercado de trabalho do futuro

Com a pandemia de covid-19, época, inclusive, que a B.NOUS nasceu, as relações, principalmente de trabalho, viveram mudanças drásticas – e algumas vieram para ficar. Esse cenário contribuiu, segundo Jabor, para um novo mercado de trabalho, que permite mais autonomia, flexibilidade e liberdade do funcionário. 

Mesmo assim, temos um futuro imprevisível. “Não faz mais sentido pensarmos em uma única opção. Se não conhecemos as profissões dos próximos anos, a flexibilidade é essencial para que possamos, sempre, nos adaptar”, disse. Nesse sentido, para a B.NOUS, não existe futuro do trabalho, sem o futuro da aprendizagem. 

No caso do Brasil, no entanto, o buraco é um pouco mais embaixo. Com desigualdades sociais e econômicas, o País vê uma realidade muito plural quando o assunto é trabalho: ao mesmo tempo que é um caminho para diminuir as desigualdades, também as deixa escancaradas. Segundo ela, para além do Estado, o âmbito corporativo também precisa dar a devida atenção para esse problema. 

“É nesse caso que precisamos acelerar um caminho que as empresas já estão percorrendo, que é o da qualificação. Mas mais do que isso, é entender que não podemos fazer, no futuro, as mesmas coisas que hoje. Já que não sabemos quais serão as profissões do futuro, é importante, também requalificar o colaborador”, disse Jabor. 

Nesse sentido, Isabela mencionou o caso do iFood, que tem programas internos para requalificar os colaboradores, que, muitas vezes, não possuem um ensino completo. Em julho deste ano, por exemplo, o app de delivery fechou uma parceria com a EBAC (Escola Britânica de Artes Criativas & Tecnologia) para oferecer 350 bolsas de estudo em cursos online de capacitação e formação profissional para entregadores e entregadoras em diversas áreas, como programação, games e marketing. 

“Isso é reinserir uma pessoa no mercado de trabalho do futuro, já que a profissão dela atualmente – no caso, entregador – pode nem existir mais com o avanço da tecnologia”, comentou.