Após quatro anúncios de adiamento, o mercado aguarda ansioso a divulgação dos resultados referentes ao quarto trimestre de 2023 e ao primeiro trimestre de 2024 da Americanas (AMER3).
O cenário de recuperação judicial e um rombo contábil estimado em R$ 40 bilhões dificultam a visão de uma “luz no fim do túnel” para a empresa, segundo Pedro Marcatto, operador de renda variável da B.Side Investimentos.
De acordo com Marcatto, o patrimônio líquido negativo da empresa é o que indica a pior imagem do balanço que está por vir. Neste caso, a companhia tem mais obrigações do que direito e, mesmo que todos os ativos fossem liquidados, ainda teriam passivos a serem cumpridos, explicou.
Pedro chama atenção para a ausência de fluxo de caixa e operações custosas, reforçando que nada indica a capacidade de reversão para que a Americanas (AMER3) consiga ganho de margem.
“Além de impactada operacionalmente, ela também possui uma despesa financeira muito onerosa, em função da grandeza em que a dívida da companhia chegou, não sendo seus resultados sustentáveis de maneira orgânica. A empresa precisaria capitalizar muito recurso para ter qualquer esperança e não vimos nada de concreto perto do que seja necessário para isso”, avaliou Marcatto.
De acordo com o gestor financeiro e especialista em investimentos Marlon Glaciano, a expectativa em relação ao 1TRI24 é de colher números “reais” juntamente com os últimos meses e acontecimentos, como fechamento de lojas e demissões voluntárias e involuntárias, trazendo segurança nesses dados.
Cinco pontos de atenção
Washington Mendes, gestor financeiro e CEO da WMO Digital, destacou cinco pontos que devem concentrar a atenção de investidores e analistas de mercados. O primeiro, segundo ele, será o desempenho das receitas.
“Espera-se que o relatório revele variações nas receitas em comparação aos anos anteriores. O desempenho da Lojas Americanas em 2023 deverá refletir sua capacidade de enfrentar pressões econômicas e mudanças no comportamento do consumidor”, disse Mendes.
A análise de métricas de rentabilidade, como margem bruta e lucro líquido, será fundamental. “O sucesso das iniciativas da empresa para melhorar a eficiência e reduzir custos será observado para avaliar se a empresa conseguiu reverter a trajetória negativa ou continua enfrentando dificuldades”, completou Washington.
Além disso, atualizações a respeito da reestruturação da Americanas (AMER3) e do progresso de pagamento das dívidas, bem como a eficiência operacional da empresa – que inclui gestão de custos, a otimização da cadeia de suprimentos e os avanços tecnológicos destinados a melhorar a experiência de compra no varejo – devem estar no foco do mercado.
“Em resumo, os resultados financeiros de 2023 das Lojas Americanas fornecerão uma visão crucial sobre a trajetória de recuperação da empresa e sua eficácia operacional em um ambiente econômico complexo. O mercado estará atento a sinais de estabilidade ou a possíveis novos desafios à medida que a empresa busca solidificar sua posição no competitivo setor de varejo”, pontuou o gestor financeiro.
Sequência de adiamentos da Americanas (AMER3) geram desconfiança
Segundo Glaciano, a companhia está se empenhando para pôr fim aos atrasos nas divulgações de resultados trimestrais, com auditorias “transparentes e claras”.
“A sequência de adiamentos é justificada pela complexidade da recuperação judicial e seus devidos impactos”, disse o gestor financeiro.
As divulgações do 4TRI23 e do 1TRI24 estavam agendadas para os dias 26 de março de 2024 e 15 de maio de 2024, respectivamente. No entanto, a nova previsão disse que os números seriam divulgados até 28 de maio de 2024.
Para Pedro Marcatto, os adiamentos trazem desconfiança ao mercado em relação à veracidade dos dados apresentados, “ainda mais um ativo estressado e com o histórico específico de Americanas, em que houve fraude contábil”, pontuou o operador de renda variável da B.Side.
A varejista revelou ‘inconstâncias contábeis’ no dia 11 de janeiro de 2023. Segundo constou a investigação, a antiga diretoria da Americanas “contratou uma série de financiamentos nos quais a companhia é devedora sem as devidas aprovações societárias, todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial na conta fornecedores”.
“Foram identificados diversos contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos similares (VPC), incentivos comerciais usualmente utilizados no setor de varejo, que teriam sido artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da companhia como redutores de custo, mas sem efetiva contratação com fornecedores”, apontou o documento.
O relatório da Americanas indicou que o ex-CEO Miguel Gutierrez, os ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles e os ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes participaram do rombo bilionário.