
A ofensiva da Polícia Federal contra o Banco Master desencadeou uma crise que extrapola o setor financeiro e respinga no mundo político. A prisão do dono da instituição, Daniel Vorcaro, somada à decisão do Banco Central de decretar a liquidação extrajudicial do banco, transformou o episódio em um dos mais ruidosos do ano para Brasília e para o sistema bancário.
A Operação Compliance Zero, deflagrada em quatro estados, cumpriu sete mandados de prisão e 25 de busca e apreensão. As investigações apontam para um esquema de negociação de créditos falsos que teria movimentado mais de R$ 12 bilhões em contratos considerados fraudulentos pela PF.
O impacto é tão profundo que o FGC (Fundo Garantidor de Créditos) avalia que sua conta de proteção ao sistema pode subir de R$ 41 bilhões para cerca de R$ 49 bilhões, representando o maior desembolso de sua história.
Uma sucessão de movimentos que levantou suspeitas
Os investigadores sustentam que Vorcaro percebeu que poderia entrar na mira das autoridades e tratou de agir antes. Advogados ligados a ele procuraram o Judiciário para demonstrar disposição em cooperar, enquanto o banqueiro arrumava as malas e embarcava para o exterior.
A defesa afirma que a viagem fazia parte das tratativas para negociar a possível venda do banco a um grupo árabe — anúncio divulgado na véspera da operação policial. A PF, entretanto, interpreta o movimento como um indício claro de que ele pretendia deixar o país para evitar o cerco.
A ação também expôs um estilo de vida incompatível com o exercício regular da atividade bancária: foram recolhidos R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo, além de joias, veículos de luxo e vinhos avaliados em centenas de milhares de reais. Paralelamente, documentos internos do Master apontam mais de R$ 500 milhões gastos em consultorias jurídicas e estratégias de defesa nos últimos dois anos. É o que aponda a reportagem da Pipeline.
Liquidação do banco e disputa sobre a origem dos recursos
A sucessão de denúncias levou o Banco Central a liquidar o Master ainda na terça-feira (18), horas depois de a Fictor Holding anunciar um acordo que previa aporte de R$ 3 bilhões.
Com o regime de liquidação, qualquer negociação de venda é automaticamente suspensa, e uma administradora especial passa a comandar a instituição.
Segundo o BC, a medida é adotada quando não há mais possibilidade de recuperar a solvência ou quando são identificadas infrações graves — na prática, é o equivalente à falência definitiva da instituição.
No radar da PF, uma suspeita ganhou força: a tentativa de compra do Master pelo BRB, vetada pelo Banco Central em setembro, poderia ter servido para “esquentar” ativos irregulares e blindar recursos que, mais tarde, apareceriam como parte de operações legítimas.
A narrativa inclui contratos de fachada e manobras para atrair um comprador estatal, o que ampliou o desconforto político no Distrito Federal.
Um desfecho ainda aberto
A crise se acelerou em questão de horas, mas seus desdobramentos devem se arrastar por meses. O juiz da 10ª Vara Federal, Ricardo Leite, deve decidir sobre o levantamento de sigilos e a continuidade das medidas cautelares.
Enquanto isso, o FGC calcula a extensão das perdas, e o mercado observa, apreensivo, o impacto sobre investidores, credores e sobre outros bancos que adotaram estratégias semelhantes de captação.
No mundo político, a combinação de suspeitas criminais, risco fiscal e a ligação com atores públicos transformou o caso em um tema sensível — e uma dor de cabeça que Brasília ainda não conseguiu absorver.