Nova era

Crédito embarcado: como indústrias e distribuidoras viraram bancos

Entenda como distribuidoras, indústrias e marketplaces estão usando crédito embarcado para vender mais, fidelizar clientes e crescer

Crédito embarcado: como indústrias e distribuidoras viraram bancos
Foto: ilustração feita por inteligencia artificial

Nos últimos anos, falar de fintech deixou de ser novidade. O que vem chamando atenção agora é outra tendência: empresas que não nasceram financeiras estão entrando no mundo do crédito embarcado e serviços bancários dentro de seus próprios negócios.

De distribuidoras a indústrias, de telecom a marketplaces, a lógica é a mesma: quem conhece melhor o cliente consegue vender mais se oferecer crédito na hora certa. E esse movimento está mudando silenciosamente a forma como o dinheiro circula na economia real.

Crédito embarcado: conhecimento do cliente é a nova moeda de troca

Bancos sempre tiveram acesso a extratos, mas não ao comportamento de compra em detalhe. Uma distribuidora, uma indústria ou uma grande rede de serviços têm esse privilégio. Elas sabem quem compra, quanto compra, com que frequência e até quando costuma atrasar.

Esse grau de intimidade transforma empresas não financeiras em candidatas perfeitas para oferecer crédito embarcado. É o que chamo de “crédito como motor de vendas”: em vez de depender de bancos para liberar capital, a própria empresa cria mecanismos para financiar o cliente, aumentar sua capacidade de compra e, no processo, fidelizá-lo.

Exemplos que já estão acontecendo

Não é futuro distante. É presente.
 A Stone, por exemplo, captou R$ 295 milhões junto ao IDB Invest para expandir crédito a pequenas empresas na Amazônia Legal, com foco em empreendedoras da região. A estratégia é clara: financiar quem já usa suas maquininhas e serviços. Quanto mais crédito, mais vendas, e mais receita para ambos os lados.

Outro caso é o Grupo Werthein, dono da SKY Brasil, que lançou a fintech skx com investimento de R$ 1 bilhão. O objetivo é financiar pequenos fornecedores e parceiros da própria operação. Do técnico que instala parabólicas ao vendedor que mantém a rede ativa, todos podem ter acesso a microcrédito dentro do ecossistema da empresa.

E vale lembrar do Mercado Livre, que já empresta bilhões anualmente com base no histórico de vendas de lojistas. Aqui, o crédito não é um produto paralelo: ele é parte da engrenagem que faz o marketplace girar mais rápido e manter os vendedores dependentes do ecossistema.

A lógica por trás do crédito embarcado

O raciocínio é simples, mas poderoso:

  • Se eu financio meu cliente, eu vendo mais.
  • Se eu ofereço crédito dentro do meu app ou sistema, eu reduzo a chance dele ir buscar outro fornecedor.
  • Se eu uso dados de compra para ajustar taxas e limites, eu reduzo risco e crio rentabilidade extra.

No fim, o crédito deixa de ser apenas um serviço financeiro e passa a ser um acelerador de negócios. Para distribuidoras e indústrias, que sempre tiveram margens apertadas, é uma nova fronteira de crescimento.

Nem tudo são flores; é bom lembrar disso

Claro que esse jogo tem riscos. Entrar no mercado de crédito exige compliance, funding bem estruturado e tecnologia de análise para não transformar oportunidade em dor de cabeça. Portanto, empresas que não olharem para governança podem criar uma bomba-relógio de inadimplência.

Mas o ponto é que o caminho já começou. As empresas que entenderam esse movimento estão construindo ecossistemas financeiros dentro dos seus próprios negócios. E as que não entenderem… vão assistir seus clientes preferirem quem facilita a compra e entrega crédito junto.

O futuro do crédito está fora dos bancos

A mensagem é clara: o crédito está migrando para dentro da economia real. Em breve, não será estranho ouvir que uma indústria financia seu distribuidor, que uma rede de oficinas empresta para seus clientes ou que uma operadora de telecom é também credora.

Isso não significa que os bancos vão desaparecer, mas sim que a próxima onda de crescimento virá de quem tiver coragem de fintechzar a própria operação. Em suma, esse jogo já está acontecendo.