Na última terça-feira (13), o conselho de administração da Americanas (AMER3) revelou, por meio de investigação interna, que a antiga diretoria da companhia tinha conhecimento das fraudes contábeis que foram reveladas no início deste ano.
Em relatório, a varejista indicou que o ex-CEO Miguel Gutierrez, os ex-diretores Anna Christina Ramos Saicali, José Timótheo de Barros e Márcio Cruz Meirelles, e os ex-executivos Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes participaram do rombo de mais de R$ 20 bilhões.
Na visão de Luciano Bravo, CEO da Inteligência Comercial e Country Manager da Savel Capital Partners, essa admissão de fraude pode resultar em um cancelamento da recuperação judicial da varejista, que está em curso desde janeiro deste ano.
“O comunicado da Americanas pode resultar no cancelamento do processo de recuperação judicial da companhia e na execução imediata dos controladores. Caso a fraude seja comprovada, os controladores e o patrimônio da Americanas terão que responder pelos prejuízos causados a fornecedores e acionistas”, explicou Bravo ao BP Money.
“A partir daí, pode ser aberto um precedente para que todas as empresas possam ser passíveis de verificação não só por auditores independentes, mas também por uma comissão de inquérito. Então o caso da Americanas pode mudar toda a dinâmica de solicitação de RJ e até mesmo de deferimento dela no mercado brasileiro”, acrescentou o CEO da Inteligência Comercial.
Segundo Pedro Menin, sócio-fundador da Quantzed, a revelação feita pela Americanas pode ocasionar em uma batalha judicial entre ex-diretores e o atual conselho de administração.
“O conselho de administração da empresa fez isso para tentar ter um bode expiatório e arrumar um dono para o problema. Com isso, a nova gestão pode dar uma nova impressão ao mercado, colaborando com as autoridades e estando disposta a negociar com os credores. No entanto, podemos esperar um ataque judicial da antiga diretoria, que tentará provar que o conselho de administração também sabia do rombo contábil”, disse Menin.
Para finalizar, Daniel Hofmann, assessor de investimentos da Raro Investimentos, acredita que essa admissão de fraude da Americanas pode acabar tendo um efeito benéfico para a saúde financeira de outras varejistas.
“O impacto de médio e longo prazo dessa admissão de fraude pode ser positivo para as empresas de varejo, em geral. Sabendo do que ocorreu com a Americanas, a saúde financeira dessas empresas será fiscalizada com maior rigor, tanto pelos investidores quanto por possíveis legislações que aumentem o rigor nos controles, e, para o mercado, isso é positivo por diminuir o risco de novos eventos semelhantes”, pontuou.
A 3G Capital pode ser impactada?
Os bilionários Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Sicupira são os três maiores acionistas da Americanas (AMER3), controlando juntamente uma fatia de 31%.Os três magnatas são sócios na 3G Capital, uma holding que investe em diversas empresas de grande relevância no mercado, como Kraft Heinz, Burger King e a própria varejista.
De acordo com Bravo, a admissão de fraude da Americanas pode acabar fragilizando a imagem da 3G Capital perante ao mercado de capitais.
“Caso provado a fraude, a 3G terá fortes problemas com sua credibilidade no mercado, afetando seus investimentos nacionais e internacionais. Se tudo ocorreu sem que o trio majoritário de acionistas soubesse, vai ficar evidente a fragilidade da gestão deles. Por outro lado, se for comprovado que eles sabiam e participavam dessa fraude, será pior ainda. É como se queimar no fogo ou no óleo quente”, argumentou o CEO da Inteligência Comercial.
Diferente de Bravo, Hoffman não acredita que uma possível fraude da Americanas tenha um impacto tão negativo na holding brasileira.
“Por ter uma grande diversificação de setores nas empresas investidas, o impacto na 3G Capital não deve ser significativo. Da mesma forma que o mercado vai aumentar a fiscalização juntos às demais empresas de varejo, esta experiência negativa pode servir como um aprendizado para a holding, forçando que ela própria faça um acompanhamento mais detalhado das finanças das empresas nas quais investe, aumentando a transparência na gestão e a segurança para os demais investidores”, explicou o assessor de investimentos da Raro Investimentos.