Fases da saída

Prates: dividendos e rusgas políticas puxaram "derrocada"

A saída de Prates gerou uma queda significativa nas ações da Petrobras. Agora, investidores estão certos de que há interferência política

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

A saída de Jean Paul Prates da presidência da Petrobras (PETR4) foi anunciada na noite da última terça-feira (14). A “derrocada” do agora ex-CEO já estava quase que anunciada, com o mesmo sendo “cozinhado” no governo e enfrentando inúmeras disputas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

No início da tarde de quarta-feira (15), a estatal publicou um comunicado informando que, por ora, a presidente interina da petroleira será a Diretora Executiva de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti. Ela assumirá o cargo até Magda Chambriard, indicada para assumir a cadeira, ingressar na estatal.

Com isso, após a saída de Prates, a estatal sentiu as perdas em sua cotação na B3 (Bolsa de Valores Brasileira). Os papéis da Petrobras sob o ticker PETR3 chegaram a cair 9,57%, enquanto o PETR4 recuou 8,25%. O ritmo negativo puxou a queda do Ibovespa na quarta-feira, para os 128 mil pontos.

Além disso, o nome de Magda ainda precisa passar por análises internas da estatal. Possíveis conflitos de interesse serão investigados, além de ela ser preparada para o cargo.

“O desgaste entre Lula e Prates começou dos dois lados. Primeiro, Lula começou a perceber que sua popularidade vinha caindo e notou que muitas coisas que prometeu em campanha não estavam sendo cumpridas por algumas pessoas”, pontuou Rodrigo Natali, CIO e gestor da Escopa dos Investimentos.

Por fim, Natali acrescentou que durante sua gestão, Prates nunca fez nenhum investimento “pesado” com a estatal. Esse era um desejo claro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele esperava que a Petrobras fosse a fonte de investimento do governo, pois havia espaço fiscal para isso.

Crise dos dividendos ‘apertou a corda’ para Prates

O anúncio da saída de Prates da presidência da estatal vem menos de três meses após a famosa “crise dos dividendos”. Em 7 de março, a estatal anunciou que não distribuiria proventos extras.

Até a data do anúncio, segundo informações do “Poder 360”, a petroleira tinha uma valuation de R$ 529,1 bilhões. No dia seguinte, a estatal havia perdido R$ 55 bilhões em valor de mercado, chegando a R$ 473,8 bilhões. Além disso, a contração veio por conta da reação negativa do mercado.

Entre março e abril, o noticiário ocasionalmente voltava ao tema, com Prates chegando a afirmar que a decisão em relação aos proventos estava nas mãos do Conselho Administrativo da petroleira. Dado que a maioria do conselho é composta por membros do Governo Federal, o mercado teve uma reação negativa.

Para amenizar o “enxame de abelhas” que ele tinha armado, Prates chegou a declarar que “Lula não deu ordens sobre dividendos”.

O presidente Lula chegou a criticar a “choradeira do mercado”.

“O que eu acho é que a Petrobras precisa ter em conta o seguinte. [Ela] não é apenas uma empresa voltada para os acionistas que investem nela, porque a Petrobras tem que pensar no investimento e pensar em 200 milhões de brasileiros que são os verdadeiros donos dessa empresa”, declarou Lula em entrevista ao “SBT”.

O ‘pé de guerra’ com Silveira, ministro de Minas e Energia

Minha missão foi precocemente abreviada na presença regozijada de Alexandre Silveira e Rui Costa”, declarou Prates em mensagem enviada a amigos.

O texto exposto pela “Reuters”. A mensagem fez muitos pensarem que o ex-CEO atribuía sua saída aos ministros Rui Costa, da Casa Civil, e Alexandre Silveira, de Minas e Energia.

Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, apontou que os contratempos entre Prates e Silveira começaram há muito tempo. O ministro costumava criticar a precificação da gasolina. A situação se intensificou com a crise dos dividendos.

Em 10 de abril, o Silveira chegou a dizer que suas divergências com o então presidente da estatal eram em “questões específicas”. Ele acrescentou que elas não se relacionvam ao âmbito pessoal.

Na época, com as diversas reclamações de agentes do governo sobre Prates ao Presidente da República, Prates chegou a solicitar uma reunião com Lula para debater sua permanência.

Antes do ocorrido, em 4 de abril, chegou a ser levantado que havia um conflito entre o papel de Silveira, como ministro, e a função de Prates, como presidente da Petrobras.

No mês passado, mesmo com as afirmativas de que Jean Paul Prates não sairia do cargo, vários nomes começaram a ser levantados para substituí-lo. Dentre eles estava Aloizio Mercadante, presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

A ironia nas redes sociais

Parte desse desgaste entre Prates, o governo e as notícias de sua possível saída também era perceptível nas redes sociais. Em meio a conflitos internos entre o presidente da Petrobras e o governo, o então CEO fazia publicações ironizando qualquer tipo de especulação sobre sua demissão.

A publicação repercutiu em rede nacional e levou a pronunciamento de alguns agentes políticos, destacando que não havia a possibilidade da saída de Prates da estatal.