Crescimento econômico

BoJ: mudanças devem valorizar moeda e ativos na Nikkei

Ao BP Money, especilaistas explicam quais rumos a economia e o mercado de investimentos japonês devem seguir, pela decisão do banco

Foto: Unsplash
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A sinalização de mudanças, pelo BoJ (Banco do Japão), no patamar dos juros, promete mexer na valorização do iene (moeda japonesa) e das empresas na Bolsa de Valores. No momento, a inflação do país caminha à meta e o Nikkei 225, principal índice acionário japonês, voltou a bater recordes, mesmo diante de uma recessão técnica, com PIB negativo.

Na linha de fatores que se ligam à possível decisão do BoJ, de retirar a taxa de juros do negativo, a inflação japonesa chegou a 2,2% em Fevereiro. A meta do banco central do Japão é de 2% ao ano, sendo assim, a perspectiva é que o país supere a deflação e volte a crescer. 

Ao mesmo tempo, o índice Nikkei 225, que reúne 225 empresas do país asiático, atingiu uma pontuação acima de 40.000, no início de março. Apenas neste trimestre de 2024, o indicador do mercado já valorizou 18,6%, esse nível esteve inalcançável por 34 anos. Das empresas listadas na Bolsa, cerca de 40% são do setor de tecnologia.

Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, em entrevista ao BP Money, esclareceu que, mesmo não aumentando os juros, ainda, o BoJ pode chegar a uma normalização da política monetária, eventualmente. 

Por conta da estimativa de remoção do teto de juros, nas últimas semanas, o iene tem sido mais apreciado. O valor, relativo ao dólar, saiu de US$ 150 a US$ 144, segundo Gala. 

“As empresas exportadoras estão se beneficiando muito desse boom de desvalorização da moeda japonesa e o cenário de crescimento e de inflação melhorou bem. Todo esse movimento pode estar ajudando a acordar a economia japonesa e tirar ela daquele estado de estagnação e de deflação” disse.

Postura do BoJ deve valorizar empresas na Nikkei

Como dito, o Japão sofre, no momento, uma recessão técnica, com o PIB negativo há três trimestres consecutivos. Com isso, o país perdeu o posto de terceira maior economia mundial para a Alemanha. Uma nova política monetária pelo BoJ deve ajudar a crescer o PIB, analisou Yan Pedro, fundador da empresa Hey Investidor e da OPI Escola de Investimentos.

Na cadeia de reflexo da decisão do BoJ, o que se pode esperar das empresas cotadas na Nikkei é o aumento dos dividendos e a recompra de suas próprias ações. Isto porque, conforme explicou Pedro, o movimento aumenta o valor dos sócios dentro do negócio. 

Segundo ele, a postura do banco central deve criar mais atrativos e oportunidades para investir. A exemplo, citou Pedro, de como fez o megainvestidor Warren Buffet. O Bilionário previu o fortalecimento da economia e a volta das empresas mais desvalorizadas. 

“Elas estão dando uma simetria muito grande de investimento. E uma vez que o Warren Buffett, o maior investidor do mundo,  notou isso, proporcionalmente cada vez mais pessoas notarão. Uma notícia como essa da volta da Bolsa de Valores do Japão, pode tirar investidores dos EUA e do Brasil”, afirmou.

Histórico da política monetária

As taxas de juros japonesas foram zeradas no início dos anos 2000 e atravessaram a linha negativa em 2016. Segundo André Meirelles, Diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, essa decisão, por parte do BoJ, na época, servia para estimular a atividade econômica, pois desestimulava a poupança. 

Desde então, o índice inflacionário do Japão tem sido controlado, mantendo as mudanças na política monetária restritas aos períodos de alta, como ocorreu em 2008, disse Meirelles. Dessa forma, nem mesmo durante a pandemia de Covid-19, quando outras potências econômicas subiram os juros, o BoJ persistiu no negativo, elevando a desvalorização do iene. 

“Um dos efeitos da desvalorização cambial foi justamente o aumento na inflação, pois torna os produtos importados mais caros. Além disso, o aumento salarial que vem ocorrendo no país também pressiona a inflação, principalmente no setor de serviços”, reiterou.

Considerando os investimentos, o Japão é o maior comprador de títulos do Tesouro dos EUA. Logo, um dos efeitos do aumentos dos juros no país asiático, pode ser a realocação de recursos, por parte dos investidores, em títulos japoneses, aumentando, assim, o Treasury de 10 anos norte-americano. 

“Além disso, por conta da taxa de juros historicamente baixas, o Japão é um dos principais provedores de liquidez para os mercados globais. O que também pode gerar pressão ao mercado dos títulos longos, no caso de um eventual aumento nos juros.”

Opções de investimento na Nikkei

A Mitsubishi , uma das apostas de Warren Buffet, e a Nvidia, aparecem como as opções de investimento mais visadas na Nikkei. Segundo Pedro, a primeira cresceu 43%, somente neste ano, enquanto a segunda alcançou recordes de negociação e valor de mercado, entrando para o ranking das empresas mais valorizadas, neste quesito. 

Ele observa que o mercado automotivo japonês pode impulsionar bastante, como marcas como a Nissan, além da Mitsubishi. Com a estabilidade da economia global, o retorno do poder de compra, bem como o controle da inflação nos EUA e Brasil, o setor deve crescer ainda mais.

“Os japoneses eles têm uma qualidade absurda em relação ao serviço do mercado automobilístico, eles realmente são referência nisso”, disse.

“O fato é que a própria Mitsubishi, quase 50% desse ano, então acho que é um setor que podemos ficar de olho quando falamos no Japão, ainda mais numa retomada econômica mundial”, acrescentou o especialista.