EUA no centro

Oscilação nas bolsas: quem mais sofre e como se proteger

“O receio do mercado é que isso pode trazer um repique inflacionário em função de problemas de escoamento no canal do Suez”, explicou especialista.

Foto: Freepik
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As tensões nos mercados nacionais e internacionais aumentaram com o ataque de Israel contra o Irã na quinta-feira (18). Além disso, o humor dos investidores já vinha sendo afetado pelo receio em relação à política monetária dos EUA, que tem gerado oscilação nas bolsas.

No Brasil e no exterior, o turbilhão de informações dita o ritmo das Bolsas, que amanheceram em baixa na sexta-feira (19) devido ao ataque ao Irã. Contudo, no decorrer do pregão, as quedas atenuaram. Ainda na sexta-feira, o Irã declarou não ter intenção de retaliação.

“O receio do mercado é que isso pode trazer um repique inflacionário em função de problemas de escoamento no canal do Suez”, explicou Carlos Nóbrega, sócio da Pace Capital Investimentos.

O canal de Suez é um local de escoamento de produção de regiões como Europa e Ásia.

O canal já tinha sofrido diversos ataques desde o final de 2023, quando integrantes de grupos terroristas bombardearam navios. Em janeiro deste ano, o UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) publicou que o trânsito semanal de navios tinha registrado queda de 45% na região.

Ou seja, na perspectiva de Nóbrega, se houvesse um impacto significante no canal, poderia gerar um “repique inflacionário”. Um movimento similar ao que ocorreu na Pandemia da Covid-19, com a disparada dos preços de mercadorias no comércio de bens duráveis e não duráveis, por conta do “choque de circulação”. Além disso, as bolsas globais reagiram com as maiores quedas.

Quem mais sofre com a oscilação?

A alta da inflação afeta diretamente a vida da população, além de influenciar nos custos de produção das empresas. Esses impactos são sentidos muito fortemente por países subdesenvolvidos.

Da mesma forma, o corte tardio dos juros nos EUA tem gerado preocupações às economias globais. Isso é observado durante as reuniões do FMI (Fundo Monetário Internacional) em Washington.

Chefes de finanças de países, incluindo o Brasil, têm mantido o discurso de que vão focar no mercado interno para ditar a política monetária. Em outras palavras, vão seguir suas projeções independentemente das movimentações do Fed (Federal Reserve). O problema é que a maioria — se não todas — são afetadas pelo ritmo do dólar. Sendo assim, se os juros aumentam, gera uma reação em cadeia afetando direta ou indiretamente outras nações.

“Quando veio o susto de março (nos dados de inflação dos EUA), houve uma reversão drástica de expectativas, e isso mudou muito os humores em relação a como vão se comportar as variáveis macroeconômicas mundo afora”, declarou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), em coletiva de imprensa em Washington na quinta-feira.

“Que houve uma reversão de expectativas em relação ao Fed, houve, e nós precisamos entender, uma vez que todos são capazes de imaginar a importância do que a autoridade monetária da moeda internacional vai fazer, porque todo o resto depende um pouco disso”, acrescentou ele, de acordo com a “Reuters”.

Oscilação das bolsas: como se proteger?

Nessa perspectiva, Luis Guilherme Valim, assessor de Investimentos da Pace Capital Investimentos, pontua que existem formas de se proteger seus investimentos dessas flutuações.

“Uma primeira proteção contra isso seria investir em ativos indexados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), através das NTNBs, que são os títulos, por exemplo, do governo, e IPCA+, e também crédito privado. (2:19) Então, são aqueles papéis de empresas, como as Debêntures, CRAs e CRIs”, explica Valim.

Nesse mesmo sentido, o assessor pontua que, caso o investidor queira aproveitar o movimento de alta de commodities, ele poderá estar bem alocado. 

Segundo ele, é possível investir em “empresa como a Vale (VALE3), como a Petrobras (PETR4), empresas de aço”.

Além disso, Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, sob outra ótica, pontua que grandes cofres centrais buscam proteção em uma commodity: o ouro.

“Por isso que a gente tem visto um volume relevante de bancos centrais, em especial a China, e outros países também, como Índia, países árabes comprando, países africanos também comprando ativos financeiros de ouro”, declara Saadia.

Foi possível perceber essa necessidade de outras reservas no primeiro momento da guerra na Ucrânia. Segundo Saadia, após a Rússia invadir a Ucrânia, mais de US$ 500 bilhões foram confiscados de reservas internacionais do país.