Há intervenção?

Petrobras (PETR4): entenda "cabo de guerra" entre governo e mercado

Após decisão de reter 100% dos dividendos e inflamar o mercado, discussões sobre 'mão pesada' do Estado vieram à tona

Petrobras
Petrobras (PETR4) / Foto: reprodução/Tânia Rêgo

Por seis votos a quatro, além de uma abstenção, a Petrobras (PETR4) decidiu não distribuir os dividendos extraordinários – pagos a acionistas quando a empresa gera resultados além do esperado. Em meio aos votantes favoráveis à decisão, cinco são conselheiros indicados pelo governo.

Desde então, a bomba do “houve ou não houve intervenção” segue estourando: o mercado se inflamou e, com o recuo das ações, a companhia perdeu R$ 55,3 bilhões em valor de mercado.

O MP (Ministério Público), junto ao TCU (Tribunal de Contas da União), apresentou uma representação para que seja apurada possível interferência do governo Lula (PT) na empresa.

Para Rodrigo Leite, professor de Finanças e Controle Gerencial do Coppead/UFRJ, visto que o governo é sócio majoritário da companhia, não há intervenção. “Ele [o governo] tem poder para tomar decisões, tem dados, controles de governança e pode tomar as decisões do negócio”, avalia Leite.

Fábio Murad, sócio da Ipê Avaliações, por outro lado, diz que a interferência “parece real” devido aos rumores sobre mudanças na diretoria da Petrobras (PETR4). Ao “Pipeline”, fontes ligadas à companhia afirmaram que o presidente Lula (PT) fez convites a Aloizio Mercadante (PT), presidente do BNDES e um dos fundadores do PT.

Murad destaca ainda que a tentativa de Lula (PT) em emplacar o ex-ministro Guido Mantega para a Vale (VALE3) como mais um indicativo da ‘mão pesada’ do governo.

“Se esse tipo de influência se estender para dentro das empresas, podemos esperar um cenário onde o lucro é comprometido, os dividendos são nulos e a eficiência operacional é minada. É preocupante ver como esse tipo de abordagem pode prejudicar não só as empresas, mas também os investidores e a economia como um todo”.

Natureza mista da Petrobras (PETR4)

De acordo com o economista Edval Landulfo, a decisão de reter os dividendos extraordinários faz parte do planejamento estratégico do governo, que consiste em fazer com que a empresa fique com mais caixa para, lá na frente, repassar os recursos.

“A Petrobras tem uma natureza mista. Existe um conflito, porque busca objetivos privados, para atender aos interesses do mercado, mas não podemos esquecer que também existem os interesses públicos. A proposta do Governo Federal não é de confiscar os dividendos, mas sim mudar o planejamento”, pontua Landulfo.

Edval chama atenção ainda para o fato de a Petrobras (PETR4) ser uma das empresas no mundo que “melhor reuneram seus acionistas. “A companhia vem pagando constantemente os seus dividendos, só que há uma preocupação por ser uma sociedade mista, por agir por interesses públicos também. De que essas contínuas retiradas possam prejudicar o caixa da empresa”, completa Landulfo.

O presidente da companhia, Jean Paul Prates, esclareceu a analistas que os dividendos retidos não seriam utilizados para pagar dívidas ou investimentos, como havia sido divulgado, e que voltaria para a mão dos acionistas.