Ibovespa ultrapassa marca histórica de quedas em agosto; o que esperar?

O BP Money ouviu dois analistas para entender as perspectivas do principal índice da Bolsa de Valores

O mercado via o início do ciclo de redução das taxas de juros no Brasil como um fator que poderia impulsionar o mercado de ações. O Comitê de Política Monetária (Copom) adotou, no início de agosto, uma abordagem mais agressiva, cortando a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, levando-a para 13,25% ao ano. Ao contrário do que era esperado, o Ibovespa reagiu negativamente.

Desde então, o principal índice da Bolsa de Valores, o Ibovespa, está na décima sessão seguida operando em queda, fazendo com que o mês de agosto seja apenas de perdas e acumulando retração de 3,18% no período.

Nesse sentido, uma sequência de quedas como essa, do Ibovespa, não se via há mais de 25 anos, de acordo com os dados do TradeMap. Nesse intervalo, a Bolsa de Valores só havia caído por nove pregões consecutivos apenas em fevereiro de 1995 e em agosto de 1998.

Para o analista fundamentalista da Quantzed, Leonardo Piovesan, esse desempenho do Ibovespa está relacionado com “um efeito de sobe no boato e cai no fato, e isso tem a ver com a taxa Selic, a decisão do Copom”, explicou o analista. 

A analista econômica pelo FGV, Carol Curimbaba, ressaltou que, sem dúvidas, o corte da Selic, que beneficiam a renda variável, era aguardada pelo mercado em pelo menos 0.25pp, mas a sensibilidade necessária que se fazia a redução, se tornou um movimento obrigatório e já precificado pelo mercado, mesmo indo além da expectativa da média do mercado e já com o aviso de que devem seguir a mesma tendência para a próxima reunião.

“Eu vejo que o mercado foi precificando ao longo de julho com os dados decepcionantes abaixo do esperado de inflação IGP-M, provocando uma alteração na probabilidade do Banco Central cortar a Selic em 0,50%, que era algo que tinha uma probabilidade baixa”, completou Piovesan. 

Sendo assim, o analista destaca que, dessa forma, o Ibovespa subiu nesse otimismo e também porque a curva de juros caiu bastante no mês de julho, quando chegou em agosto, o corte de 0,50% já estava precificado. 

Queda do Ibovespa

Dessa maneira, Piovesan explicou que tiveram investidores que achavam que o Ibovespa ia continuar subindo, visto que era uma possibilidade, no entanto, houve realização de investidores realizando o lucro de valorização dos meses passados. “Agora, estamos acomodados com o Ibovespa andando de lado, mas eu não acho que isso seja uma preocupação, na minha visão, é normal”, afirmou.

Por outro lado, a Carol destacou que o cenário externo também deixou a desejar com a queda nas bolsas americanas e também no minério de ferro, contribuindo para as quedas do índice. 

“A bolsa não sobe sempre, é normal ter uns períodos de acomodação e com a bolsa andando de lado para depois fazer uma nova alta ou possivelmente pegar um movimento de queda”, explicou o analista fundamentalista. “Mas é normal ter esse tipo de acomodação, o importante é que a Curva de Juros mantém patamares baixos, a gente não viu nenhum estresse ainda, então ainda não é motivo de preocupação”, acrescentou.

Entretanto, Piovesan ressaltou que, o que pode se tornar uma preocupação para o desempenho do Ibovespa, são os dados de inflação. Isso porque, a alta da bolsa foi em grande parte motivada pelos dados da inflação terem vindo abaixo do esperado. Isso tanto IPCA, como o núcleo do IPCA, dados de IGPM também, explicou o analista. 

“Vimos a queda do dólar, queda de commodities, a economia mais fraca que também motivou queda de dados de varejo, de serviços. Então tudo isso fez com que a inflação caísse e a curva de juros caísse”, afirmou. 

O analista ainda destacou que, o estresse desses juros, dos dados mensais de inflação, podem fazer com que a curva volte a empinar, principalmente a parte longa, que é a parte mais importante da curva. “Então eu colocaria isso como risco”.

Atenção para reforma tributária 

Em suma, o analista fundamentalista evidenciou que, a reforma tributária é um ponto de atenção do Banco Central para decidir sobre a continuação desse ritmo de queda de juros. Portanto, se houver algum estresse dessa reforma travar no Senado, e acabar não sendo aprovada esse ano, por exemplo. “Podemos ter um estresse também na curva de juros e nas empresas, porque o Banco Central pode elevar os juros, por conta de uma incerteza fiscal maior e com isso pisar no freio na queda de juros, reduzir o ritmo e a magnitude aí dos próximos cortes e assim a Selic acabar terminando em um patamar mais alto”, explicou Piovesan.

Preocupação externa

Piovesan também alerta que, existe um risco externo, dos EUA, uma vez que, lá existe um risco dos juros poderem ainda subir e com isso, acaba sendo um drive para o dólar subir, o que acaba estressando os juros da mesma forma também. “Esse é um ponto a se olhar, esses juros nos Estados Unidos e a economia lá fora”, alerta o analista.

“Portanto, eu colocaria em alerta esses dois pontos, embora eu estaria mais preocupado neste momento com os dados domésticos, principalmente os próximos dados de inflação e essa reforma tributária também”, finalizou o analista sobre o Ibovespa.