Magazine Luiza (MGLU3), Via (VIIA3) e B2W (AMER3) serão impactadas minimamente por “pacote de bondades”

Varejo alimentício deve ser o principal “beneficiado” por novos auxílios do governo à população

Em uma possível tentativa de impulsionar sua campanha eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) não tem medido esforços para garantir o pagamento da PEC Kamikaze pelo Governo Federal ainda em agosto. O pacote de auxílio, entretanto, não deverá ter impacto sobre as principais companhias do setor de varejo discricionário, como Magazine Luiza (MGLU3) e Via (VIIA3), diferente do que aconteceu em 2020 e meados de 2021 – quando houve uma corrida ao ecommerce por parte da população que recebeu o benefício – segundo especialistas consultados pelo BP Money.

De acordo com os especialistas, apesar do Estado estar, de certa forma, “injetando dinheiro na população”, as pessoas não estão com folga para comprar itens que não são de uso primário, como ocorreu nos dois primeiros anos de auxílio em decorrência da pandemia de coronavírus. É o que explica Paulo Luives, assessor de investimentos da Valor Investimentos. 

“O contexto é um pouco diferente [dos anos anteriores]. Hoje, nós temos um cenário onde a população não tem mais essa restrição de mobilidade, então, em termos de renda, o consumidor – principalmente das classes de menor poder aquisitivo – vai gastar um pouco mais em serviços e em alimentação, que é a parte que deve ganhar um pouco de tração no varejo [varejo alimentar]”, disse Luives.

Os programas de complemento de renda foram muito importantes durante a pandemia e chegaram a mexer com alguns papéis de empresas varejistas, em um passado não tão distante. Companhias como Magazine Luiza, Via e Americanas, por exemplo, foram beneficiadas, já que a maior parte da população ficou restrita a questão de mobilidade, que impediu que esse dinheiro recebido fosse para o setor de serviços, o que acabou destinando grande parte dos montantes recebidos pela população para bens de consumo, tanto na parte alimentar quanto na parte de eletrônicos. Mas dessa vez, o cenário é adverso.

“Com a inflação elevada, a renda desse cidadão já está menor. Então a renda disponível dele já não é destinada a comprar uma geladeira ou um fogão. Ele vai reforçar a dispensa dele, ou seja, em um primeiro momento esse recurso deve ser direcionado para itens de consumo básico, não para parte de varejo discricionário”, destacou Luives. 

Luives também afirmou que, em contrapartida das empresas do varejo discricionário, companhias do varejo alimentício podem ganhar um fôlego a mais com a chegada do auxílio ao bolso da população, principalmente para as classes de menor poder aquisitivo, como C e D. 

“O público das classes C e D é o que, com essa maior renda disponível, deve direcionar para o consumo de itens básicos. Eu acredito que, de maneira geral, o montante recebido por pessoas de menor poder aquisitivo não deve ir para o consumo discricionário. O montante vai para varejo alimentar e consumo básico”, destacou o assessor de investimentos da Valor.

Reforçando que a PEC das bondades não deve ser um fator de grande peso para os papéis das varejistas mais ligadas aos eletrodomésticos e ao ecommerce, o head de renda variável da SVN Investimentos, André Luzbel, afirmou que um corte nos juros, por exemplo, teria um impacto muito maior nessas empresas do que o auxílio. Segundo ele, um movimento de euforia do mercado em relação às ações de varejistas, após os auxílios, seria um pensamento errado dos investidores.

“Temos visto uma inflação cada vez mais crescente ao redor do mundo, não só na parte de produtos, mas também nos serviços. A princípio, os auxílios estão servindo para corrigir um pouco da alta do preço dos produtos e de serviços, então dificilmente vamos ver o impacto dos auxílios nas varejistas. Dificilmente veremos mais TVs, geladeiras e fogões sendo vendidos. O que devemos ver é um ajuste na demanda por produtos, principalmente do varejo alimentício. Não está sobrando muito dinheiro para a população aumentar a venda dessas varejistas [como Magazine Luiza e Via]”, disse Luzbel.  

O analista Mauricio Rahmani, da Reach Capital, também confirma que os juros altos e grande parte das famílias endividadas são fatores que acabam impactando fortemente o setor neste momento. 

“O cenário é bastante ruim para consumo. A inadimplência dos bancos para pessoa física está subindo bastante. É um cenário ruim. Essas medidas vêm como refresco, mas não muda o cenário para essas empresas, no curto prazo. Ou seja, essas medidas ajudam, mas o cenário segue difícil”, disse Rahmani.

Por outro lado, o analista da Nord Research, Victor Bueno, afirmou que esse tipo de política, principalmente de auxílio emergencial, em momento de pandemia e pós-pandemia é benéfico para varejistas como um todo. Entretanto, o especialista reforça que um possível movimento de retomada das companhias na bolsa pode ser temporário.

“São benefícios temporários, que vem em um momento muito delicado e desafiador para o setor. O cenário macro é muito delicado para essas empresas, por conta de uma inflação muito alta e, consequentemente, uma taxa de juros que vem aumentando sucessivamente nos últimos meses, desde o ano passado”, disse Bueno. 

“Mas é como eu falei, é algo temporário. Você pode ter impactos positivos nos fundamentos e também nas ações [de varejistas como o Magazine Luiza]. O mercado pode ver isso [pacote de auxílios] como positivo e, no curto prazo, reagir positivamente ali, porém só o tempo pode dizer quais serão os reflexos no médio e no longo prazo”, complementou o analista da Nord.