Equidade de gênero

Mulheres representam 35% dos investidores no mercado financeiro

Estudos revelam que a menor presença feminina no mundo dos investimentos tem raízes em questões socioeconômicas, em vez de comportamentais

Mulheres representam 35% dos investidores
Mulheres representam 35% dos investidores (Foto: Freepik)

Em ritmo de progressão ainda tímido, as mulheres vêm, aos poucos, tomando espaço no mundo dos investimentos. Em 2023, 35% passaram a compor o mercado brasileiro de ações. Os dados pertencem à última pesquisa da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), em parceria com o Datafolha. 

Em geral, as investidoras femininas têm uma idade média de aproximadamente 44 anos, com a maioria pertencendo à classe C (50%), possuindo educação até o Ensino Médio (42%) e residindo principalmente na região Sudeste (52%).

Já o levantamento da Bolsa de Valores brasileira, a B3, realizada no mesmo ano, apresenta uma realidade levemente reduzida em relação ao alcance das mulheres no mercado de capital. 

Destacando o último trimestre do ano passado, o número de investidoras cresceu de 24% para 25%, atingindo cerca de 1,25 milhão de mulheres. Porém, em números absolutos, a participação cresceu significativamente entre 2018 e 2020, quando a quantidade de investidoras na bolsa saltou de 179.3 mil para 809.5 mil. 

Mesmo acanhado, os números representam um salto de dois pontos percentuais, em relação ao ano anterior, quando as investidoras registravam o nível de 33%. Ao BP Money, a co-fundadora da Melver, Jaqueline Bourscheidt, afirma que, embora haja avanços recentes, a equidade de gênero neste setor permanece uma meta distante. 

“A inequidade de gênero no mercado financeiro é profundamente arraigada e multifacetada. Desde a falta de representação feminina em cargos de liderança até a disparidade salarial persistente, existem barreiras em todas as etapas da carreira”, avaliou Bourscheidt.

Mulheres ficam mais atrás no mercado de ações

No que diz respeito ao mercado de ações, a diferença entre os gêneros se torna mais evidente. Embora tanto homens quanto mulheres sejam predominantemente conservadores e invistam pouco em ações, a disparidade é significativa. Enquanto 4% dos homens investem em ações na bolsa de valores, apenas 1% das mulheres o fazem.

“Isso reflete que elas ainda não se sentem confortáveis e capacitadas para lidar com o assunto de finanças”, afirma a especialista em investimentos, Nevi Fagundes, para o BP Money.

A Bourscheidt completa afirmando que é no nível educacional que “muitas dessas discrepâncias são semeadas e cultivadas”.

Mulheres que empreendem: por que a presença feminina é menor?

Estudos revelam que a menor presença de mulheres no mundo dos investimentos tem raízes em questões socioeconômicas, em vez de comportamentais.

De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres ganham, em média, 22% a menos que os homens, uma disparidade que aumenta para 34% em cargos mais elevados.

“Historicamente as mulheres ganham menos que homens, isso é um dado fático também, isso acaba repercutindo também no quanto sobra de dinheiro para investir”, ressaltou a especialista em Wealth planning da SVN, Iasmin Mello.

Além disso, a profissional ainda levanta a educação financeira como outro dos fatores relevantes para contornar a problemática.

“Eu entendo que a mulher, por estarmos em uma sociedade patriarcal, ela não foi criada pra pensar em dinheiro e aí, portanto, a educação financeira que é dada aos homens muitas vezes não é dada pras mulheres. Isso contribui também, até para um comportamento de irresponsabilidade financeira”, completou.

Fagundes, por sua vez, reforça a necessidade de impulsionar mais mulheres para adentrar no mundo financeiro. “É crucial destacar a importância da educação financeira desde cedo, tanto nas escolas quanto em programas específicos para mulheres”.