Via (VIIA) puxa alta de varejistas na Bolsa de Valores; entenda

No Ibovespa, nesta segunda-feira (19), papéis de VIIA3, MGLU3 e AMER3 registram as maiores altas; especialistas explicam motivos

Na semana passada, Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) ficaram entre as cinco maiores quedas do Ibovespa. Nesta segunda-feira (19), porém, tudo mudou. As varejistas lideram as altas do índice e, de acordo com analistas, o movimento de alta está ligado a fatores macro e a um “balanço de mercado”. 

De acordo com Flávio Conde, analista da Levante, a alta das ações se dá pela combinação de dois fatores: o primeiro é os juros futuros, que registraram uma “levíssima queda” e o outro é um movimento de mercado. 

“O primeiro fator é que houve um ajuste bem pequeno nos juros futuros e, em segundo, e mais importante, uma parte dos investidores resolveram comprar ações que caíram muito nas últimas semanas, que é o caso das varejistas. Não tem nada novo. Não saiu nenhum indicador, é balanço de mercado mesmo”, disse Conde.

Em uma explicação mais técnica do cenário para as varejistas na Bolsa de Valores, Fernando Ferrer, analista da Empiricus, destacou que as companhias do setor estão encarando uma destruição grande de valor, muito por conta do cenário macro conturbado, e a dificuldade operacional que isso gera para a administração dessas empresas. Ferrer explicou que, tecnicamente, o movimento das varejistas nesta segunda pode ser chamado de “short squeeze” (movimento repentino de aumento no preço de uma ação na bolsa). 

“Muitos investidores shortearam [venderam a descoberto] esses papéis. Hoje, com um mercado um pouquinho mais animado, a curva de juro caindo e o Ibovespa subindo, acontece o movimento técnico de você zerar o seu short, né? Então tem o que a gente chama tecnicamente de ‘short squeeze’, que os papéis começam a subir, e aí quem está operando vendido tem que se desfazer desse short pra zerar a operação, e aí como você desfaz do short, você compra mais o papel. Isso acaba criando um movimento técnico, que acaba sendo retroalimentado e cria essas distorções de desempenho”, explicou Ferrer.

Do lado macroeconômico, o especialista de renda variável e sócio da Acqua Vero Investimentos, Heitor De Nicola, destacou que o movimento é uma consequência da redução da expectativa da inflação deste ano, de 5,79% para 5,76%, além da queda nos juros futuros. 

“Foi a segunda queda consecutiva do indicador. Além disso, os juros futuros estão em queda hoje, principalmente os de 3 e 5 anos, o que é positivo para as empresas do setor. Essa alta pode continuar de acordo com uma melhora do cenário doméstico como um todo. Juros, inflação, endividamento das famílias e assim por diante. Tudo isso leva tempo e não é necessariamente uma melhora gradual. Ou seja, ainda não temos um catalizador muito claro para o setor sem ser esse tipo de melhora macroeconômica”, disse Nicola. 

Ainda sobre o cenário macroeconômico que atinge as varejistas 

Em 2022, as ações da Via acumulam queda de 57,33%. Americanas (AMER3) tem queda acumulada de mais de 72% no ano, enquanto Magalu (MGLU3) tem uma desvalorização de mais de 60% dos papéis na Bolsa.

Victor Bueno, analista de Small Caps da Nord Research, explica que as ações das varejistas já enfrentavam um ambiente de incertezas econômicas neste ano e esse quadro teve uma leve “piora” com os riscos que o mercado passou a enxergar com as possíveis mudanças que o novo governo deve implementar, prinpalmente relacionadas ao ambiente fiscal dos próximos quatro anos.

“Por serem mais sensíveis a um ambiente macroeconômico mais turbulento, vimos as varejistas sofrerem mais nos últimos meses. A alta que estamos acompanhando hoje está ligada a sinalizações um pouco mais positivas, né? Depois de várias semanas que a gente teve sinalizações muito negativas, principalmente relacionadas a PEC da Transição, a gente viu hoje algumas notícias mais positivas”, disse Bueno.

O analista citou a queda dos juros longos como um dos fatores principais para o positivismo momentâneo de investidores em relação as varejistas. 

“O cenário de juros impacta muito, tanto positivamente quanto negativamente, as varejistas do nosso País. Uma Selic de 2% passou para 13,75%, e a gente viu os impactos diretos, né? Não somente nas ações das varejistas mas nos resultados das varejistas”, explicou Bueno. 

O especialista destacou que a elevação dos juros comprime o consumo da população, afetando as receitas das empresas, o que torna mais difícil o repasse no preço ao cliente.

“O cenário inflacionário junto a elevação dos juros também eleva as despesas financeiras dessas empresas e, consequentemente, reduz os seus lucros”, pontuou Bueno. 

O analista também afirmou que é “muito cedo” para afirmar que estamos vendo uma recuperação para as varejistas. 

“A gente ainda tem que esperar próximas sinalizações, principalmente com relação a PEC da Transição, e também, obviamente, outras nomeações pra equipe econômica, para saber quais serão os rumos pro nosso País, principalmente relacionados aos juros daqui pra frente”, concluiu Bueno.