Argentina: Mercados se preparam para turbulência com vitória de populista

Principais mercados do país estavam fechados durante a noite, mas as exchanges online de criptos mostraram que peso enfraqueceu até 15% em relação ao dólar

Os eleitores argentinos nas eleições primárias elegeram neste domingo (13), o candidato populista de ultradireita, o mesmo que havia prometido incendiar o Banco Central, sendo assim, os ativos na Argentina devem operam nesta segunda-feira (14) no negativo.

Enquanto os principais mercados nacionais permaneciam fechados durante a noite, as plataformas online de negociação de criptomoedas refletiam um enfraquecimento do peso em relação ao dólar, atingindo uma queda de até 15%. Isso ocorreu em um volume de negociações relativamente modesto, após Javier Milei conquistar a liderança nas eleições de domingo na Argentina, garantindo cerca de um terço dos votos. Este congressista pouco conhecido se autodenomina libertário e advoga pela dolarização da economia.

O estrategista-chefe do BTG Pactual em Buenos Aires para a Argentina, Alejo Costa, afirmou que é esperada uma queda nos preços dos títulos e uma desvalorização da moeda doméstica de até 14% na segunda-feira, nos mercados paralelos, que são utilizados para contornar as restrições regulatórias.

“Os investidores gostam da mensagem econômica de Milei, mas temem a execução e o risco institucional, considerando sua falta de poder no Congresso e seu estilo agressivo”, disse Costa.

Campanha do congressista

O congressista, que está em seu primeiro mandato, conduziu uma campanha contra a classe política, alegando que esta geriu de forma ineficiente a economia ao longo dos anos, resultando em repetidas crises no país. A Argentina está à beira de enfrentar sua sexta recessão em uma década e está lidando com uma inflação que ultrapassou os 100%. Milei sustenta que pode controlar o aumento dos preços ao abandonar a moeda local e adotar o dólar americano como substituto – uma medida que muitos economistas alertam que poderia provocar perturbações financeiras.

Embora os poucos detalhes revelados por Milei sobre sua agenda causem confusão entre os principais economistas, os cidadãos argentinos ansiosos por encontrar uma nova direção parecem não demonstrar grande preocupação diante de suas declarações sobre “queimar” o banco central. Multidões celebram quando ele descreve os políticos como infratores, saqueadores e criminosos responsáveis por prejudicar a economia.

A coalizão de oposição de centro-direita da Argentina chegou no segundo domingo à noite com cerca de 28% dos votos, enquanto o partido atual de esquerda seguiu com cerca de 27% com quase 90% dos votos apurados.

“A mensagem é muito clara: o voto farto e anti-establishment para punir a classe política venceu”, disse Fernando Losada, diretor administrativo da Oppenheimer & Co. em Nova York.

Governos populista

Assim como Jair Bolsonaro no Brasil e Donald Trump nos Estados Unidos, populistas estrangeiros com os quais Milei é frequentemente equiparado, o argentino também apresenta visões sociais provocadoras. Ele expressou a intenção de eliminar o recém-estabelecido Ministério da Mulher e uma instituição governamental que aborda questões relacionadas ao racismo, restringiria o acesso ao aborto e simplificaria a aquisição de armas em um país onde armas de fogo de origem doméstica são escassas.