Ibovespa: "sem a Vale, índice poderia chegar aos 130 mil pontos", diz consultor

Para compreender o desempenho da Bolsa, juntamente com as quedas das ações da Vale, o BP Money ouviu dois especialistas do mercado

No primeiro semestre de 2023, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, registrou uma alta de 7,61%, cotado a 118.087 mil pontos, no entanto, a Vale (VALE3), a principal ação do índice, que representa uma fatia de 15,9%, sendo a empresa com maior relevância atualmente, esteve entre as maiores quedas da Bolsa, com baixa de 26,16%.

Nesse sentido, se não houvessem as movimentações das ações da Vale no índice, o Ibovespa teria alcançado no primeiro semestre os 131.000 pontos. 

Para entender melhor os movimentos da bolsa de valores nos primeiros seis meses, e o impacto das ações da Vale no índice, o BP Money ouviu dois especialistas. André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital e Eduardo Cavalcanti, Consultor de Valores Mobiliários e Cofundador do Fundamentei. 

Desempenho da Bolsa de Valores

Cavalcanti destaca que o principal motivo que está impactando o desempenho positivo do índice nos últimos meses desde março, é a expectativa de queda da taxa de juros (Selic). Uma vez que, é esperado que na próxima reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária), em agosto, ocorra o primeiro movimento de diminuição da taxa Selic em pelo menos 0.25%.

O head de renda variável em linha com Cavalcanti, destaca que boa parte da alta do ano da nossa bolsa foi agora no mês de junho, em que o Ibovespa subiu 9%, com a expectativa de queda da Selic, juntamente com alívio das despesas financeiras que vem corroendo os resultados das empresas, tornando o ambiente de negócios mais atraente. 

“Os investidores partiram para alocação em ativos de risco para antecipar esse corte da Selic, tanto investidores estrangeiros quanto locais”, afirmou Fernandes. 

Desse modo, Cavalcanti ainda explicou que, com a taxa de juros caindo, acaba sobrando mais dinheiro nas operações das empresas, pois os juros sobre endividamentos pagos a cada trimestre caem consideravelmente, sobrando mais dinheiro para investimentos, contratar mais colaboradores ou mesmo dividendos para os seus acionistas. “Fazendo com que as empresas entrem numa tendência de alta de preços na Bolsa de Valores. O Ibovespa apenas segue esse movimento, já que é uma “cesta” com a média da variação das ações mais negociadas na B3″, explicou. 

Ações da Vale 

Em relação às ações da Vale, especificamente, Fernandes recorda que, desde o fim do ano passado, o mercado estava com expectativa de queda nas cotações do minério de ferro, em razão da retomada mais lenta da economia da China, que é o principal mercado da Vale. “Com isso os investidores acabaram zerando posições na mineradora, outros preferiram comprar proteções para se resguardar da queda, o que deu muito certo até o momento”. 

“Sem o peso das grandes exportadoras, o Ibovespa poderia ter andado um pouco mais”, ressaltou Fernandes. 

Para Cavalcanti, um dos principais problemas do Ibovespa é a sua alta concentração em poucas empresas. Visto que, apenas Vale, Itaú (ITUB4), Petrobras (PETR3; PETR4), Bradesco (BBDC4), Eletrobras (ELET6), B3 (B3SA3), Ambev (ABEV3) e Banco do Brasil (BBAS3) representam 50% da composição atual do índice. “Qualquer movimento brusco no preço dessas ações acaba sendo refletido no índice.

Portanto, mesmo com a animação do mercado com a queda da taxa de juros, isso não foi suficiente para fazer com que a Vale subisse no mesmo ritmo que o Ibovespa, impactando bastante o seu resultado final por ser a ação mais relevante na composição do índice, explicou o consultor de valores imobiliários. “Bem provável que sem a Vale o Ibovespa estivesse próximo dos 130 mil pontos”.

Expectativa do Ibovespa no 2S23

Nesse contexto, Fernandes afirma que a expectativa é bem positiva para o desempenho do índice no segundo semestre, já estamos com horizonte de cortes na SELIC já para agosto, e “juros para baixo é bolsa e ativos de risco para cima”. Com a perspectiva positiva do PIB, Fernandes destaca que também ajuda a atrair investidores para bolsa, principalmente o investidor estrangeiro. Além disso, os fundos locais que estavam pessimistas com Brasil para esse ano, já ajustaram suas posições para uma visão mais otimista para nossa bolsa, afirmou.

“Se não houver alguma crise grave a nível mundial, temos grandes chances de ver o Ibovespa voltando ao seu topo histórico de 131 mil pontos atingido em junho de 2021”, ressaltou Cavalcanti.

Efeitos dos temores nos EUA

Em relação aos temores no mercado nos EUA, Fernandes destaca que, “nós não somos uma “ilha”, ou seja, o que acontece no mercado lá fora, querendo ou não acaba respingando um pouco no Ibovespa”. 

Sendo assim, um cenário de juros mais altos nos EUA, acaba provocando uma aversão maior à risco por parte dos investidores, explicou. Por outro lado, o ponto positivo é que dentre os emergentes, o Brasil é o melhor posicionado para atrair capital estrangeiro, por apresentar potencial de crescimento para os próximos anos, uma inflação mais controlada, e com a política monetária na contramão dos países desenvolvidos, explicou.. 

“No Brasil vamos iniciar queda de juros, enquanto nos mercados desenvolvidos o ciclo de alta nos juros deve seguir por mais alguns meses, tanto nos EUA quanto na Europa”, acrescentou Fernandes. 

Expectativas da Vale (VALE3) no 2S23

Em suma, Cavalcanti explicou que um fator fundamental para o lucro da Vale é a cotação do dólar, já que mais de 90% da sua receita é proveniente do mercado externo, além da sua commodity ser precificada em dólar. Sendo assim, com a queda do dólar atualmente para valores abaixo de R$ 5 somado a queda do preço das commodities no mercado internacional e um crescimento mais fraco da economia na China, “a minha expectativa é de que o lucro da Vale continue caindo ou pelo menos estabilizando num patamar próximo ao do primeiro trimestre de 2023″, ressaltou.

Em contrapartida, para Fernandes, a perspectiva é positiva para a Vale no Ibovespa. O que o mercado está monitorando de perto, é a venda da fatia de 10% da divisão de materiais básicos (cobre e níquel), que é ligada a transição energética no mundo, a Vale quer atrair um parceiro estratégico para acelerar os investimentos dessa divisão, e isso deve agregar valor aos acionistas da mineradora”, finalizou.