Selic a 13,75% pode estar no fim. Ainda vale a pena investir?

Especialistas ouvidos pelo BP Money dizem que o momento pode ser propício para o investimento em títulos pré-fixados, mas é preciso cautela

Com a divulgação do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) abaixo do esperado pelo mercado, somado a pressão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a queda na Selic, especialistas ouvidos pelo BP Money explicam que esse pode ser um momento propício para o investimento em títulos pré-fixados, mas é preciso cautela.

“Eu acho que em um percentual da carteira é um bom momento para colocar em pré-fixado, no entanto precisa ser com muita cautela, ou seja, uma porção pequena da carteira com pré-fixados, para aproveitar essas taxas altas”, disse o CEO e sócio-fundador da Vante Invest, Davi Ramos.

Já Jaqueline Benevides, analista de renda fixa da casa de análise do Traders Clubs (TRAD3), diz que o IPCA acima do esperado em dezembro, devido ao aumento do consumo no final do ano, por conta das festas, férias e resquícios da Black Friday, principalmente no setor de cosméticos, já retornou em janeiro, o que gera uma expectativa positiva para a desinflação. Devido a esse cenário, é possível olhar para títulos pré-fixados, mas também para os indexados híbridos ao IPCA.

“Isso não quer dizer que eu enxergue que a inflação vai baixar do começo do ano até o final. A gente espera que no meio do ano ela tenha um aumento e depois volte a continuar em queda. Então vale a gente olhar não só para os ativos pré-fixados, mas também para os indexados ao IPCA híbridos, porque a gente está falando, um exemplo, de NTN-bs pagando 6% + inflação do momento, então é muito prêmio, quando a gente olha para essa ponta pré-fixada desse ativo híbrido”, comentou.

Ainda segundo ela, em contrapartida, os grandes players continuam pedindo mais prêmios, porque é o segundo leilão do Tesouro, que força uma venda de títulos, colocando um volume expressivo. Por conta disso, os grandes players não estão pegando NTN-bs e também os pré-fixados, por quererem um pouco mais de prêmio, devido ao risco e à volatilidade que refletem na curva de juros.

“Então a pergunta que fica é se vale a pena [os pré-fixados]? Sim, mas talvez se o investidor acredita que vai ter mais algum aumento, não vou falar para colocar todo o percentual de uma vez só, porque em ações você acaba fazendo uma taxa de retorno média. Mas vale a pena porque está muito atrativo, não só os pré-fixados, mas essa composição de híbrido do IPCA”, concluiu.

O head de renda fixa na WIT Invest, Lucas Siqueira, também concorda sobre a cautela em investir em títulos pré-fixados. Segundo ele, é necessário saber que, ao comprar um ativo pré-fixado, você está travando aquela rentabilidade. Caso a Selic aumente, será um investimento ruim, caso o inverso acontecer, aí será um cenário positivo.

“Não é que seja errado ou certo investir em ativos pré-fixados. O ideal é que a gente faça uma exposição mais conservadora em ativos pré-fixados, ou seja, uma pequena parte do patrimônio do investidor. Não existe uma verdade absoluta, mas o aconselhável é que tenha uma diversificação entre todos os indexadores que passam pelo pré, pós-fixado e pela inflação”, explicou.

Há previsão para a Selic subir ou abaixar?

“Nós não sabemos quanto isso vai durar, esse tempo que a Selic vai ficar nesse valor (13,75%). Se a gente tiver um descontrole nos gastos públicos e o mercado internacional também não colaborar, ou seja, o cenário lá fora não melhorar, a gente pode ter sim uma alta de inflação, e essa alta vai ter que subir mais juros”, disse Ramos.

Apesar dessa pressão pela queda da Selic, Siqueira relembra sobre a importância da independência do Banco Central (BC), existente desde 2018. Para ele, essa autonomia faz com que ele consiga contornar a pressão política e, no momento em que o Brasil está, segundo ele, não é possível enxergar uma queda de juros a tão curto prazo, mas também é um cenário incerto para se dizer que vai aumentar.

“O BC tem uma autonomia no qual ele consegue desconectar o ciclo da política monetária, que é o papel dele, do ciclo político. E é um ponto muito positivo isso, porque quanto mais independente é o Banco Central, mais eficaz ele é. Então olhando para essa questão se ele vai ou não contornar essa pressão política, eu acredito que sim. Em um primeiro momento, ele consegue sim”, explicou.

Em sua visão, Jaqueline comenta sobre 13,75% não ser uma taxa considerada tão alta para o Brasil, já que houveram momentos de Selic acima de 14%. Segundo ela, o que seria estranho para o País é uma Selic a 2%, como ocorreu em 2021.

“A gente está, sim, falando de uma taxa de dois dígitos, mas é algo que a gente já pratica e passou por muitos períodos. Acho que não é fora da curva e volto a ressaltar que não vejo mais nenhum aumento. Acredito que o Banco Central mantenha nesse patamar por um período mais extenso e não que venha fazer mais aumentos nas próximas reuniões. Se vir, vai ser muito pouco, na base dos 14%, acima disso não consigo visualizar. Pensando no que eu falei de inflação, o processo de desinflação está vindo muito otimista, então não vejo espaços para mais aumento”, disse.

O analista político, Anderson Nunes, traz uma outra visão sobre a inflação. Segundo ele, era um consenso que o IPCA de janeiro viesse abaixo do esperado em relação a dezembro. Contudo, para os próximos meses, há uma expectativa de uma pressão nos preços, por conta dos reajustes nas mensalidades escolares e preços de condomínio.

“Só isso na cesta da inflação tem uma faixa de 30%. Outra coisa que vai acontecer também na inflação é quando for divulgada, em abril referente a março, a questão da gasolina e do álcool, que só tiveram a isenção dos impostos mantidas por 60 dias, além da prorrogação dos impostos federais zerados terem sido apenas para o diesel e o gás natural. Então isso deve impactar de forma direta a inflação”, explicou.

Para a questão da queda na taxa de juros, Anderson diz que não acredita ser o momento. Segundo ele, apesar de haver uma uma pressão política para a queda da taxa Selic, o País não está caminhando para a meta de inflação.

“Tem uma pressão política? Sim. É o que o Lula quer? Sim. Quanto maior a inflação, você tem que aumentar a taxa de juros, para poder impactar no comércio geral, com o crédito mais caro, as coisas ficam mais caras. Então quando você, automaticamente, aumenta o preço das coisas, tende a diminuir o preço do consumo, para tentar segurar a inflação. Então a taxa de juros vem para segurar a inflação, quanto mais alta a inflação, mais alta a taxa de juros. E o Lula na verdade ele quer fazer as reduções na canetada, e eu acredito que isso não vai dar certo”, disse.