BPM Entrevista

BETs devem gerar bilhões para o Brasil, diz Fulltrader Sports

Em resposta ao BP Money, Ricardo Santos, fundador da Fulltrader Sports comentou sobre as expectivas de crescimento desse mercado

Foto: Ricardo Santos / fundador da Fulltrader Sports / Divulgação
Foto: Ricardo Santos / fundador da Fulltrader Sports / Divulgação

A “febre” das apostas esportivas chegou de vez ao Brasil e, com sua regulamentação, trará bastante retorno ao País, como projeta Ricardo Santos, fundador do Fulltrader Sports — empresa de análise de dados de trade esportivo em futebol. De acordo com ele, as BETs devem arrecadar “múltiplos bilhões” para o fiscal brasileiro.

As casas de apostas tomaram espaço nas transmissões de partidas de futebol, comerciais na televisão, patrocínio de campeonatos e outdoors espalhados pelos centros urbanos. De tal forma que o governo Lula decidiu “abraçar” o movimento e regulamentar as conhecidas BETs.

Em resposta ao BP Money, Santos, que também é cientista de dados e especialista em análise estatística para apostas, projetou, inclusive, que o sucesso dessas empresas no mercado é forte o bastante para, nos bastidores, já se considerar possíveis IPOs.

Confira a entrevista na íntegra:

Como a regularização vai impactar o funcionamento e os ganhos das casas de apostas esportivas? 

A regulamentação tem, sim, impacto nos ganhos das casas, pois hoje todas operam offshore e têm uma carga tributária bem menor do que será no Brasil. 

Mas apesar disso, o mercado brasileiro continuará sendo muito atrativo, pois o engajamento do Brasileiro com apostas esportivas só aumenta.  

A carga tributária deve ficar em 12% do GGR + Impostos já existentes, o que deve chegar perto de 30% no total. 

Claro que isso deve impactar na oferta de produtos aos apostadores. Pode ser que os prêmios pagos tenham que ser reajustados, sendo esse um dos pontos negativos de alta tributação.

A partir da regularização, o governo brasileiro pretende obter ganhos fiscais com as BETs? Como isso irá ocorrer?

Existe um conceito chamado de GGR, que é o faturamento com as apostas menos os prêmios pagos aos vencedores e o Imposto de Renda descontado dos prêmios. 

Esse GGR cobrado pelo governo brasileiro será de 12%, o que não está tão distante de outros países, como o Reino Unido, por exemplo. 

Mas além do dessa cobrança, incidirá sobre as empresas de BETs outros impostos que já são cobrados para qualquer empresa, então sim, a arrecadação fiscal do Brasil deve ultrapassar a casa de múltiplos bilhões de reais.

Atualmente, quantas BETs atuam no Brasil e em média quanto investimento elas têm movimentado?

O número de BETs que disponibilizam apostas para brasileiros é tão grande que o número de hoje já estará desatualizado amanhã, considerando que todas ainda estão offshore. 

Em uma pesquisa básica vai encontrar pelo menos 2 mil sites, e se for olhar para cassinos esse número pode ser multiplicado por 10 tranquilamente. 

A movimentação ainda não é catalogada aqui, já que essas empresas ainda não prestam serviços oficialmente no Brasil, mas estima-se números perto de 120 bilhões de reais movimentados em 2023.

Ao se tornar uma atividade legalizada, quais tipos de negócios e investimentos estão no radar das BETs no médio e longo prazo? 

Com a legalização do jogo no Brasil, podendo extrapolar o campo das BETs, chegando nos cassinos. Não há dúvidas de que veremos milhares de pontos físicos e lojas que oferecerão esse tipo de serviço. 

O primeiro passo é o investimento em infraestrutura no Brasil, seguido por ações agressivas em publicidade.

A longo prazo é extremamente provável que o Brasil seja um dos maiores pólos de entretenimento em jogos regulados do mundo, e vejamos grandes redes hoteleiras com cassinos enormes instalados no País. Isso irá gerar milhares de empregos diretos e indiretos.

Um dos negócios com o qual as BETs mais se envolvem é a publicidade, para diferentes canais, qual a tendência para esse segmento a partir da regularização? 

A publicidade é fundamental para essas empresas, pois quanto mais pessoas jogam, mais as casas tendem a ganhar com taxas transacionais. 

Hoje já vemos 90% dos times de futebol com patrocínio master de grandes grupos de BETs, e isso deve se estender para outros esportes também.

Além disso, o investimento do setor em influenciadores digitais cresce absurdamente, sendo sem dúvida uma das maiores portas de entrada para novos apostadores. 

O mercado publicitário brasileiro que se especializar no setor deve gerar resultados incríveis a partir de 2024, bem como as mídias tradicionais, que vão de outdoor ao vidro do táxi, televisão, rádio, até às mídias digitais.

Em declaração recente, o CEO do ASSAÍ disse que as BETs têm influenciado no consumo das famílias, pois as pessoas gastam o dinheiro em apostas esportivas. Como o senhor vê esse cenário após a regularização?

Essa declaração foi bem infeliz e enviesada, sem nenhum tipo de responsabilidade com a metodologia na análise. 

É evidente que o comportamento de consumo do brasileiro é influenciado por diversos fatores, como lançamento de novas tecnologias, celulares, novos tipos de entretenimento, etc. 

Dizer que um supermercado vendeu menos porque seus clientes deixaram de comprar carne para apostar é constrangedor, e tenta justificar a incompetência das estratégias comerciais. 

No Reino Unido, o mercado de apostas é extremamente mais difundido do que no Brasil, e não se tem notícias de fast foods, ou redes de supermercado, quebrando por isso. 

Enfim, constrangedora a declaração, é o que define. Façamos, sim, estudos sérios e com metodologia adequada para analisar impactos benéficos e maléficos do setor, mas sem mentir com estatística enviesada.

Quais outros setores tendem a ser impactados negativamente devido às apostas nas BETs?

A única forma de medir isso é com o tempo. Pessoalmente acredito que não haverá impacto negativo maior ou menor em nenhum setor. Exceto, talvez, para aqueles que vivem de publicidade e são patrocinados pela indústria do mercado financeiro.

Como, por exemplo, os youtubers que divulgam daytrade, investimento em Bolsa, etc, esses devem iniciar uma verdadeira “guerra” contra o setor, não por ética ou por responsabilidade, mas por lucro. 

Com o tempo, muitas pessoas irão preferir a previsibilidade maior das apostas esportivas em detrimento ao day trade e criptomoedas, por exemplo. 

Mas a verdade é que, de uma forma ou de outra, a economia irá girar, e todos os setores que brigam pela atenção das pessoas terão que melhorar sua oferta de produtos, não por causa da indústria de apostas, mas sim por conta da mudança de comportamento da geração. 

É nítido que os jovens não querem mais empregos fixos como antigamente e buscam muito mais por alternativas de gerar e multiplicar dinheiro com mais liberdade. Adapte-se ou morra, essa é a tendência desde os dinossauros e não será diferente. 

Após o processo, como o senhor vê a pretensão de negócios por parte dessas empresas? Acredita que elas podem buscar investimentos, através de, por exemplo, IPOs?

Sem dúvida. Isso já está acontecendo nos bastidores. Por conta do Ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização] extremamente atrativo, grandes grupos de investidores estão se voltando para esse setor.

E após a consolidação das marcas veremos empresas de capital aberto com crescimento assustador, como já aconteceu em outros países. 

Meu conselho é que fiquem atentos, pois quando surgirem papéis de empresas de BETs no mercado a procura irá ser bem maior que a demanda, e quem sabe do que estou falando entende o que isso significa no bolso.