Para Box Asset, centro-oeste chegou de vez na Bolsa

A gestora, criada em setembro de 2021 e com seu primeiro fundo lançado em março de 2022, se proclama de “a maior gestora de fundos líquidos do centro-oeste”. Cerca de 70% dos seus investidores são da região. 

“Quando você pensa em centro-oeste, lembra de agronegócio, certeza”, a frase foi dita por Fabrício Gonçalvez, CEO da BOX Asset, em conversa exclusiva com o BP Money na última semana. “Nós estamos tentando mudar um pouco essa imagem, mas é um trabalho demorado”, explicou Gonçalvez, natural de Goiânia e que decidiu criar sua empresa na região. 

A gestora, criada em setembro de 2021 e com seu primeiro fundo lançado em março de 2022, se proclama de “a maior gestora de fundos líquidos do centro-oeste”. Cerca de 70% dos seus investidores são da região. 

No centro-oeste, inclusive, é onde os investimentos mais crescem no Brasil. Segundo a Anbima, em levantamento divulgado em agosto deste ano, teve uma alta de 8,6% e volume de R$ 244,3 bilhões, tornando-se a região com maior crescimento de investimentos na bolsa no primeiro semestre de 2022.

Na economia geral, por exemplo, um levantamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostra que o Centro-Oeste é a região brasileira com melhor desempenho econômico nas últimas quatro décadas. Desde 1970, a sua participação no PIB nacional cresceu de 3,8% para os quase 10% que assume hoje.

Para a Box, a maneira de se conquistar mais relevância é educando e depois investindo. Miram em atrair pessoas através das mídias sociais. Fabrício, por exemplo, já conta com mais de 40 mil inscritos em seu canal do YouTube e 160 mil seguidores em seu instagram. Na conta, fala sobre trading e estratégias de investimentos. 

No primeiro fundo lançado pela gestora, a estratégia segue a mesma lógica, com trades usando como referencial o desempenho do Ibovespa. Para entender como tem sido o desempenho do fundo da Box Asset, confira a entrevista com Fabrício Gonçalvez:

Como é o mercado financeiro para o Centro-Oeste? 

Quando você fala no centro-oeste, o que você pensa? Agricultores, agronegócio muito forte e muito estabelecido. Esse público não tem tanto conhecimento sobre o mercado financeiro.

A fonte de receita de investimentos desse pessoal vem de outros negócios que não são do mercado financeiro. Só que esse público e essa visão dessas pessoas já mudaram bastante. Elas entendem que podem proteger as suas operações na terra. Então, quando se fala que nós somos “a maior gestora de fundos líquidos do centro-oeste”, quer dizer que aqui no centro-oeste nós saímos do eixo Rio – São Paulo e nós montamos fundos de investimentos cuja ideia principal é justamente trabalhar com bolsa, fundo imobiliário, com fundos que se tornam líquidos para aqueles empreendedores do agronegócio. Nós queremos explorar esse ramo do agronegócio aqui que é muito forte e que carece de informação. Essa informação cabe a nós primeiro educarmos e consequentemente oferecermos os nossos fundos para eles.

Estar no centro-oeste muda a estratégia de vocês para investimentos?

Independente de onde você estiver, a estratégia daria para ser executada. É lógico que o eixo Rio-São Paulo é muito forte do ponto de vista do mercado financeiro. Se você for olhar em São Paulo, por exemplo, toda a parte da Faria Lima é muito forte. Então, o que muda? Nada, você opera da mesma maneira, só que a cultura nossa financeira tem que vir de São Paulo, tem que vir do Rio de Janeiro. 

Então, nesse sentido, que tipo de cultura? A cultura de entender sobre o mercado financeiro, de entender sobre a bolsa. O maior business nosso é lá fora. Só a sede que é aqui. 

Mas, a maneira de captar é aqui. 70% do nosso público de cotistas são daqui: Mato Grosso, Goiás e Brasília. Só o foco mudou e nesse sentido mudou porque nós somos daqui e queríamos empreender a partir daqui. 

A diferença é basicamente a captação. Nós priorizamos aqui. Agora, a cultura financeira é basicamente mesmo do eixo Rio-São Paulo. 
 
Como é o trabalho pra conseguir captar esses cotistas no centro-oeste?

A nossa estratégia se pauta primeiramente educar e depois fazer a captação daquele recurso. Hoje, fazemos essa captação de recurso de três maneiras: a gente trabalha com câmbio para eles. Por exemplo, eu tenho um cliente que é produtor de soja, ele quer hedgear a produção dele, porque os fertilizantes no próximo mês podem aumentar ou fazer algo do tipo, eu consigo ajudar ele no câmbio, fazendo trade no câmbio para ele no sentido de fundo e posso sugerir fazer uma diversificação, colocar uma parte do seu recurso em um fundo de investimento de ações. 

E depois, já começa a se questionar como seria isso. Então acaba que isso tudo é primeiro uma educação e depois uma captação de recursos. E por fim, logicamente você operar aquele recurso daquele cliente.
 
Então invertemos o processo. Enquanto grandes gestoras não tem a necessidade de educar porque através da sua performance já são procuradas ou algo do tipo, nós que somos pequenos, o primeiro passo é de educar. E nessa história tem toda aquela questão de prova social, porque depois que você tem um cliente que consiga performar no fundo ele fala pra outro e assim a gestora vai crescendo.

Queria falar um pouco sobre a sua carreira antes de decidir criar esse fundo em Goiás. Como foi essa jornada?

Olha eu venho de um setor de mercado Rafael muito especulativo. Eu trabalho com trade propriamente dito. Todo o material que disponibilizo em rede é um material para varejo mesmo, pessoas que fazem Day trade, pessoas que operam no curtíssimo prazo.

Nessa ideia, com o público crescente, qual que era o principal objetivo? Fazer algo institucional. Ou seja, fazer com que saiam do trading e venham com a gente. Porque essas pessoas não querem somente fazer trade, elas querem aumentar os seus patrimônios da maneira mais responsável possível. Então, surgiu a ideia de montar a gestora pra justamente pegar esse público do trading, esse público que você gera o branding, que você gera de investidor. Essa ideia de gestora veio disso, eu trabalho com trade, tinha a necessidade de trabalhar com equity.

Por que a ideia do centro-oeste primeiro?

Porque eu sou daqui e segundo porque você vai gerando aqui referências, eu sou referência aqui na minha cidade, no meu estado. No centro-oeste, sendo referência as pessoas te procuram. 

Como tem sido a estratégia e a perfomance do FIA de vocês, que foi lançado neste ano?
 
Olha, estamos distribuindo somente no BTG pactual, por enquanto. Até mesmo por conta do Track Record que há necessidade, até mesmo para você expandir para outras distribuições de outras casas. É um ano desafiador, principalmente para fundo de ações no Brasil. 

Você está tendo no País inteiro, nos fundos de ações, a retirada de valores para alocar na renda fixa. Há esse desafio para nós aqui, ele não tá sendo tão impactante justamente porque nós estamos vivendo num momento de mercado com inflação e juros crescentes, um momento de mercado bastante volátil. 

A cada dia nós precisamos nos proteger ainda mais. Então, qual a estratégia do fundo hoje: nós nos posicionamos em value investing: commodities e bancos. Na medida que o tempo passa, fazemos hedge em BOVA11 na medida que a gente encontra melhores oportunidades. 

Basicamente, 70% da carteira está locada em value investing. 

Na performance estamos um pouco acima do nosso benchmark principal em 2% no ano. 

Isso é muito importante porque é um momento de mercado onde você tem muita volatilidade. E você tem uma carteira ibovespa completamente desbalanceada sob o ponto de vista de performance. Ou seja, você vê o Ibovespa 5% positivo no ano, mas você vai pegar um setor de varejo, por exemplo, caindo 30, 40, 50%. O setor financeiro também na mesma proporção. 

O Ibovespa está concentrado na maior parte do tempo na mão de Petrobras e Vale e também de ações ligadas ali ao consumo que é quase 25%. Você hoje vê um Ibovespa desbalanceado em relação ao cenário atual. Nós estamos satisfeitos com isso porque estamos conseguindo, num momento de muita tensão e muito desafio performar bem. 
 
Agora, sobre os próximos passos, o que vem por aí? 
 
Os próximos passos são basicamente: a gente descolar do nosso benchmark no FIA Ibovespa, principalmente adotando uma estratégia com um novo governo de de repente se expor mais ao risco comprando o setor de consumo, varejo e educação, setores que quando se fala de distribuição de renda tem melhores oportunidades. Continuaremos fazendo câmbio como estamos fazendo. E basicamente agora explorar bem essa renda fixa que nós estamos vivendo, principalmente trabalhando ali com pós e pré-fixado.

E, para os próximos anos, e para 2023 a gente quer expandir nossa área de captação que a gente entendeu que sem uma área forte de captação, com assessores dentro da própria gestora ligando, conversando e educando, expandindo mais essa área educacional da própria gestora e também vindo para as mídias sociais.