Gympass aposta em "bem-estar coletivo" para crescer

Startup nasceu como uma plataforma facilitadora para atividades físicas e, hoje, foca no “bem-estar” coletivo, mirando consolidação no cenário internacional

Um dos temas mais abordados nos últimos dois anos foi, sem dúvidas, a saúde. A crise sanitária, provocada pela pandemia de Covid-19, trouxe à tona temas que ficavam “escondidos”, principalmente no ambiente corporativo. Apesar das empresas oferecerem, há algum tempo, planos de saúde, não era tão comum benefícios ligados à saúde preventiva para os funcionários. A Gympass enxergou esse gargalo, durante a pandemia, e mudou, inclusive, o foco do seu negócio – além de mirar ainda mais a consolidação no âmbito internacional.

Em entrevista ao BP Money, Priscila Siqueira, CEO do Gympass no Brasil, afirmou que o diferencial da empresa, hoje, é ser uma plataforma completa de bem-estar. Isso porque até meados de 2020, o foco da empresa era ser uma plataforma que facilitava a atividade física de funcionários de empresas. 

“Começamos a apoiar os clientes nessa questão de aula online e, para manter as pessoas saudáveis, entramos muito junto com o RH das empresas. Ao final de 2020, paramos, olhamos e percebemos que não éramos mais uma empresa só de atividade física, a gente tinha nutrição, meditação, educação financeira, vários apps ligados ao bem-estar, então hoje somos uma empresa de bem-estar”, destacou Siqueira.

A executiva da Gympass destacou que, hoje, as empresa não podem deixar de lado a preocupação com a saúde de seus funcionários.

“Somos desafiados a oferecer as melhores soluções, para oferecer subsídio para que as empresas [clientes] possam colocar o Gympass e falar: ‘isso vai impactar na produtividade das pessoas, vai me trazer um retorno’”, disse Siqueira. 

A CEO da Gympass afirmou, também, que antes da pandemia o número médio de check-ins em academias por cliente, por mês, era de seis. Atualmente, nesse “pós-pandemia”, a média de check-in está em oito. 

Siqueira destacou que houve um aumento no interesse das empresas em fazer parceria com a Gympass, visto que os funcionários também demonstraram mais preocupação com a saúde. 

“Deixou de ser um item de luxo para ser um item extremamente necessário [a parceria com empresas de saúde preventiva]. Hoje, a empresa que não tem nenhuma ação de bem estar não é bem vista”, disse Siqueira. 

Segundo a CEO da Gympass, uma pesquisa feita pela empresa, relacionada ao panorama de bem estar global, demonstrou que a maioria das pessoas consideram o bem-estar como o segundo item mais importante depois do salário. 

“Hoje, os profissionais avaliam estar ou não dentro da empresa dependendo do cuidado com o funcionário”, disse Siqueira. 

A Gympass possui mais de 23 mil academias parceiras no Brasil, o que é considerado pela empresa um grande diferencial, já que representa “uma capilaridade muito grande”. A empresa está em 12 países, incluindo Estados Unidos, Espanha e Inglaterra, e conta com mais de 50 mil academias e estúdios parceiros no mundo.

“Quando falamos de colocar o Gympass na empresa, a gente fala de colocar uma solução extremamente inclusiva, que sirva desde o operacional até o presidente, e que faça sentido para todo mundo”, afirmou a CEO da Gympass.

O antes e depois da Gympass

A Gympass é um exemplo de companhia que alterou seu foco durante o ano de 2020. A empresa, criada em 2012, sempre teve como foco a internacionalização. A ideia da companhia, inclusive, surgiu das diversas viagens de um dos cofundadores da empresa, que percebeu que havia uma demanda reprimida de empresas que ofereciam academias ou treinos em diferentes regiões do mundo ou cidades de um mesmo país. 

A plataforma Gympass foi criada com o intuito de oferecer atividades físicas para os usuários. Primeiramente, surgiu como um negócio B2C (o produto era oferecido diretamente para o consumidor final). 

“A ideia era você entrar no site, fazer parte do Gympass e ir na rede de academias que o Gympass tinha parceria. A gente rodou dois anos nesse modelo. Como todo negócio B2C era complexo de escalar”, disse Siqueira.

A CEO do Gympass destacou que os alunos começaram a cancelar planos em academias  para seguir via Gympass, o que foi visto por algumas academias como uma forma de “canibalizar” os alunos. 

Em 2014, Siqueira contou que surgiu a primeira “pivotada” da empresa, quando uma companhia procurou a Gympass para dizer que estava “subsidiando bastante o Gympass”, e então ofereceu um contrato corporativo. 

“Foi aí que a gente começou nosso primeiro contrato corporativo com cliente. Os clientes são sempre os impulsionadores de qualquer mudança. Assim começamos a olhar outro business. 

“Começamos a ter para os nossos parceiros, ao invés de canibalizar as pessoas que já tinham, levávamos mais gente para as academias”, disse Siqueira. 

Apesar de contar que ainda não estava nesta época, na Gympass, Siqueira destacou que em uma semana de contrato corporativo a plataforma vendeu quase o mesmo tanto que havia vendido de contratos para clientes diretos (modelo anterior de negócio). 

“Começamos a vender para grandes clientes, internacionais. O Gympass nasceu dizendo que seria uma empresa internacional, então ja foi construído com a ideia de que seria multinacional e, em 2015, logo depois que a gente pivotou pro B2B2C, a gente foi pro México, depois pra Europa e em 2018 fomos para os EUA”, contou Siqueira. 

Pandemia e mudança no negócio

A pandemia trouxe a antecipação da mudança dos negócios da empresa. Segundo a CEO da Gympass, a companhia tinha um projeto de digitalização programado para o final de 2020 e antecipou isso com a chegada da pandemia.

“Começamos a fazer parcerias com os principais apps de meditação e exercícios, na versão premium [no início da pandemia]. Trouxemos para nossa plataforma e distribuímos dentro dos planos. Trouxemos app de nutrição, meditação e terapia online. Em duas semanas, já estava no ar e a gente começou a entregar isso para os nossos clientes, para que pudessem, minimamente, entregar alguma coisa para os usuários”, disse Siqueira. 

A executiva destacou que, por causa da internacionalização do Gympass, a empresa já estava preparada, vendo o que acontecia na Europa. “Quando o Brasil fechou, a gente já sabia que aquilo não ia ser uma coisa tão simples”, afirmou Siqueira

Com a antecipação do impulsionamento nos meios digitais, a Gympass saiu do pilar de ser só “atividade física” para ser uma plataforma de “bem-estar” completa.

“Estamos conseguindo crescer o que queríamos crescer em 2022. A pandemia nos ajudou, por um lado, porque você imagina que todo esse tema de saúde física e mental era um tema que já existia dentro das empresas, mas estavam escondidos. A pandemia evidenciou isso. Evoluímos nosso produto e evoluímos como uma plataforma”, destacou a CEO da Gympass.

Gympass pensa em IPO

Segundo Siqueira, o IPO é uma possibilidade, mas não é um plano da empresa para o curto prazo. “A gente não tem pressa. No dia que a gente for fazer isso, faremos com sobriedade. Toda startup trabalha com essa possibilidade”, disse a CEO da Gympass. 

De acordo com a executiva, o objetivo da Gympass é se estabelecer cada dia mais como plataforma de bem-estar. “Essa é nossa visão: como ser cada dia mais uma solução de bem-estar que apoia usuários e empresas. Precisamos nos estabelecer cada dia mais em todos os países em que a gente atua, igual somos no Brasil. Queremos ser essa referência em todos os outros países”, concluiu Siqueira.