Investimentos e impacto social se unem no VRB

Com quatro fundos de fundos, o veículo destina sua taxa de administração para levar educação e esporte aos mais vulneráveis

“Da favela para o asfalto” é a visão do veículo de investimentos VRB. Criado em 2016 com o propósito de doar sua taxa de administração para projetos de educação e esporte, o veículo conta com quatro fundos de fundos (Funds of Funds, FOFs, em inglês) geridos por um comitê formado por alguns dos maiores family offices do Brasil.

Além do viés social e da gestão de qualidade, o VRB traz outro diferencial: o acesso aos melhores fundos do País, muitas vezes fechados para aplicação. Dynamo é um dos fundos que fazem parte das alocações do VRB. O segredo por trás desse portfólio? A proposta de valor de impacto social, que fez os tanto os family offices, quanto os fundos apostarem no veículo de investimentos.

“Acho que eu deixo três mensagens para o investidor. Uma é o acesso a uma gestão de portfólio profissional, onde o investidor pode confiar que terá diversificação dentro dessas classes de ativos. Ele vai poder concentrar as estratégias multimercado, previdência e renda variável através da família VRB”, disse o CEO do VRB, Tiago Fernandes, ao BP Money.

E ele ainda completa: “A segunda estratégia mensagem que eu acho bacana transmitir é o acesso. Se eu fosse investir diretamente, eu não teria acesso ao Dynamo e outras gestoras que estão fechadas para captação hoje. E o terceiro é o impacto, que é o grande catalisador de tudo. Sem o impacto a gente não existiria. Não teria o acesso e também não teria gestão profissional. Então o impacto não é um detrator de performance, ele é um alavancador da qualidade dos produtos”, contou.

A casa possui quatro fundos: VRB Multimercado; VRB Adv Prev XP; VRB Icatu Prev FIM; VRB FIC FIA. Juntos, eles já doaram mais de R$ 15 milhões para os projetos, que impactaram mais de 190 mil pessoas entre 2020 e 2022 em Pernambuco, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Goiás, Paraná e Rio Grande do Sul.

A Academia Pérolas Negras (APN) é um dos projetos incentivados pelo VRB. A APN é o primeiro time de futebol profissional ESG do Brasil, promovendo treinamento esportivo em comunidades vulneráveis nos estados do RJ e SP para 1,8 mil jovens, entre 6 e 24 anos. Outro exemplo é o projeto Viva Rio, que oferece 492 bolsas de estudo para educação básica, profissionalizante e superior em comunidades do RJ, como as Vila Aliança (Bangu), Cidade de Deus, Cantagalo (Ipanema) e Parque Ipanema (Queimados).

Confira a entrevista exclusiva com o veículo de investimentos VRB

Vocês possuem quatro fundos geridos por um comitê composto por cinco family offices conhecidos do Brasil. Conta um pouquinho melhor.

Tiago – São quatro fundos que investem em outros fundos. Então estamos falando de um fundo multimercado, depois dois de previdência multimercado (um na XP e outro na Icatu), e o VRB FIC FIA, que é a versão de renda variável da família VRB. Eles são geridos por um grupo de family offices, que são instituições responsáveis pela gestão patrimonial de grandes famílias. Ou seja, estamos falando de famílias com patrimônio acima de US$ 100 milhões. Esses family offices são os responsáveis por fazer a gestão do patrimônio dessas famílias ultra high net worth. 

E a gente conseguiu reunir em torno do VRB essas cinco casas, que são as maiores do Brasil. A gente tem BW da família Moreira Salles. Temos a XP Advisory, que é o braço de gestão do produto previdenciário da XP. Seguido pela Turim, que é o maior multi family office independente. Temos a UBS Consenso, que tem o banco UBS por trás, que comprou a Consenso alguns anos atrás (é o maior multi com presença de banco no Brasil, que tem trilhões de dólares under management no mundo). E por fim tem a Tera, um multi family offices dos sócios do Pátria, que é o maior gestor de investimentos alternativos do Brasil, o Pátria Investimentos.

Então a gente tem um grupo que é, provavelmente, o melhor time de gestão de Funds os Funds (FOFs) independente do Brasil. A gente conseguiu reunir esse time que faz a gestão em conjunto dos FOFs VRB. Essa é a primeira camada do VRB que é a gestão realizada por esses family offices. A segunda camada são as gestoras que a gente investe. Essas gestoras são gestoras como Dynamo, que está fechada há muito tempo. Eles abriram e fecharam em menos de um minuto em 2022 – e o VRB conseguiu um espaço por causa da nossa conotação filantrópica. A gente tem a Atmos que também está super fechada para captação. A gente tem um pool de gestoras e o grosso está fechado para captação. A gente só consegue acessar essas gestoras, porque temos um diferencial na indústria para acessar essas casas.

Conta sobre a estratégia de cada fundo.

Tiago – A gente tem um multimercado que é um mix entre estratégias multimercado, renda variável e renda fixa. Então a gente tem gestores que são os melhores nessas estratégias. Digamos que tenha um investidor que queira diversificar o patrimônio dele através de um veículo. Esse VRB multimercado faz a diversificação automática para esse investidor, dentro dessas classes de ativos.

No VRB FIC FIA, que é a versão renda variável da família VRB, a gente tem 40% do fundo em Dynamo, 30% em Atmos e o resto em Oceana, Truxt e Sharp. E ai a gente tem um pool de gestoras no prev e um pool no VRB FIM. O peso dessas classes de ativos e as gestoras são definidos por esse grupo de family offices, que são as maiores instituições do Brasil.

Você cita esses benefícios dos investidores terem essa diversificação na carteira. Como ela ocorre?

Tiago – O VRB FI é um multiestratégia, onde dois terços, em média, do fundo vão ficar alocados, no longo prazo, em outros fundos multimercados. Então a gente tem Ibiúna STH, temos SPX Nimitiz, tem Kapitalo Zeta, tem Sharp LS 2x. E dentro de cada macroalocação, a gente tem estratégias específicas. No multimercados, a gente tem multimercado macrofundamentalista, macro trading, long short, macro diversificador.

E há subcategorias dentro dessas categorias. Então olhamos meticulosamente para capturar valor a partir de diferentes drivers de rentabilidade e neutralizar os riscos específicos no máximo que a gente puder. Essa é a estratégia multimercado. Na estratégia de renda variável, é o mesmo conceito de macroalocação de melhores gestoras dentro dessas subcategorias. E aí um terço do fundo, em média, vai ficar alocado em fundos de renda variável ou renda fixa.

Agora, por exemplo, a gente está com 20% do fundo em renda variável [no VRB FI]. Dentro disso, a gente tem ações long bias fundamentalista, ações long bias trading e long only. Dentro de ações long bias, o fundamentalista é o Oceana e o trairing é o Truxt. Já as estratégias long only são Dynamo e Atmos. É a mesma lógica para todos os books do fundo: dois terços, em média, multimercados; um terço flutuando entre renda variável ou renda fixa. E em renda fixa a gente foca, exclusivamente, em títulos públicos, tendo NTN-b ou LFT. Hoje, a gente está entre 10-15% do fundo em NTN-b 28.

No book de renda variável, é um fundo de renda variável puro, então só tem fundo long only, não tem nenhuma outra estratégia. No previdenciária, é a versão multimercado na previdência, então é matricial, tudo que a gente faz em um a gente replica no outro. Nem todos os gestores que a gente tem em um gente tem no previdenciario. A gente busca replicar a medida que vão surgindo as estratégias na previdência que a gente já tem no multimercado. A ideia que seja matricial em melhores esforços. Hoje a correlação está em torno de 0,95, é uma relação muito elevada entre as duas estratégias.

Falando um pouquinho do benchmark, para todos os fundos é o CDI?

Tiago – Sim. Nos multimercados (não é um parâmetro objetivo, mas é uma referência) a gente busca entregar para o investidor, no longo prazo, CDI + 3% ao ano. Esse é o target de retorno do fundo. No longo prazo, é um retorno muito forte. Parece que CDI + 3% não é muito agressivo, mas quando você faz o compounding, 10-20-30 anos, você ganhando CDI + 3%, isso é a preservação de capital e perpetuação de patrimônio na veia, que é a filosofia do fundo multimercado. Então para os multimercados CDI + 3%, tanto o VRB FI quanto os de prev. E no de renda variável é superar a variação do Ibovespa.

Então gostaria que você detalhasse como foi o desempenho dos fundos no ano passado? Vocês bateram o CDI? O que vocês atribuem esse resultado?

Tiago – O que acontece com a nossa família de FOFs? A gente tem posições estruturais na renda variável. No longo prazo, é uma estratégia que faz muito sentido. Se você pega, por exemplo, o retorno da Dynamo, em 30 anos, a gente está falando de 45% de retorno analisado, contra cerca do CDI e Ibovespa que ficam em torno de 30% em 30 anos. Então no longo prazo faz muito sentido você ter uma parcela estrutural da renda variável. Esse é o playbook dos maiores fundos de pensão, esse é o modelo Yale de gestão de patrimônio.

Só que no curto prazo, naturalmente você vai ter soluço. Sobretudo em um país como o Brasil, um país com tantas fragilidades do ponto de vista político. No curto prazo, quando a renda variável sofre, a gente naturalmente vai sofrer mais. Mas no longo se renda variável andar, o inverso também é verdadeiro. E isso foi o que aconteceu no ano passado. Em 2022 a renda variável sofreu, alguns fundos caíram 20-30%. Nesse ano também, já está sendo muito difícil. Então naturalmente a gente sofre mais do que a média dos multimercados.

Em relação a outros fundos de fundos, a gente teve um diferencial de retorno muito robusto assim. A gente está falando entre 5 e 15%. Então ano passado a gente ficou em linha com o CDI e, para o nosso mandado ano passado, foi uma vitória. A gente conseguiu entregar um retorno e teve competidores nossos que caíram, ficaram negativos no ano, mais de 12% para trás em relação ao CDI.

Sobre a taxa de administração ser doada para projetos sociais no Brasil, queria que você contasse mais sobre o lado social do VRB.

Tiago – Esse é o grande motivo pelo qual a gente conseguiu reunir esse ecossistema fantástico jogando a favor do patrimônio do cliente. Os family offices jamais iam alocar tempo e energia se não tivesse esse componente, porque eles têm os clientes deles para cuidar também. Mas qual é a nossa missão do VRB enquanto instituição filantrópica? É fazer a ponte entre a favela e o asfalto, através dos veículos do VRB, gerando impacto na vida de quem mais precisa.

A gente nasceu a partir do Viva Rio, que é uma das maiores instituições filantrópicas do Brasil, nascida em 1993 a partir de uma reação à onda de violência que a gente viveu no Rio de Janeiro, com as chacinas da Candelária. E aí a sociedade se uniu em torno de uma agenda comum de transformação. O VRB foi criado em 2016 para ser patrocinador de uma das iniciativas do Viva Rio. No meio do caminho, a gente começou a abrir para outras instituições filantrópicas. A gente aloca com foco na educação e inclusão produtiva no Brasil.

E quando a gente tava montando o fundo, em 2016, a gente trouxe esse case do Viva Rio e explicamos nossas ambições, que a gente também queria criar no mercado financeiro uma ponte real entre a favela e o asfalto, e os family offices concordaram em participar do case, desde que todo mundo abrisse mão da da taxa de administração, ou seja, ninguém recebesse nada no âmbito do projeto.

Então toda a taxa, depois de custo, deveria ser doada para o VRB impacto. O VRB fica com entre 35 a 40% para remunerar a estrutura e o líquido, em torno de 60-70%, é direcionado para os projetos. Foram mais de R$ 15 milhões doados pelos fundos do VRB para o VRB Impacto, que foram para os projetos.